O Presidente norte-americano admitiu sexta-feira que a resposta inicial à crise humanitária provocada pelo furacão “Katrina” no sul dos Estados Unidos foi um fracasso. Os resultados alcançados são “inaceitáveis”, afirmou George W. Bush, no dia em que visita as zonas mais afectadas pela catástrofe.

Horas antes, o “mayor” de Nova Orleães, Ray Nagin, descreveu o cenário da sua cidade. Em declarações à CNN, Nagin acusou as autoridades federais de “desconhecerem por completo o que se passa” em Nova Orleães. O “mayor” acusou também a resposta do Presidente Bush – sobrevoou a zona de avião, na quarta-feira, a bordo de um Air Force One – de não “estar à altura do desastre”.

Noutra entrevista, à rádio WWL, Nagin utilizou mesmo linguagem forte. “[As autoridades federais] Estão a jogar com isto. Andam aí a mostrar-se para as câmaras e não fazem ideia do que se está a passar. [Bush e outros responsáveis políticos] Sobrevoaram [a cidade] uma vez depois do desastre com câmaras de televisão atrás. Perdoem-me os americanos, mas estou lixado com isto. Eles dizem que a ajuda vai chegar, mas a minha resposta é BS [“bullshit”, ou seja, tretas]”, declarou em tom inflamado.

[Ouça excertos das declarações de Ray Nagin à WWL]

Bush encontra-se sexta-feira com as equipas de salvamento e autoridades locais. “Há muitas pessoas que trabalham arduamente para ajudar os que foram afectados [pelo furacão] e irei agradecer às pessoas pelos seus esforços”, afirmou em conferência de imprensa na Casa Branca.

“Estou impaciente para falar com as pessoas que se encontram no terreno. Vou garantir às pessoas que estão nas zonas afectadas, bem como ao país, que vamos mobilizar os meios necessários e dominar a situação”, acrescentou o chefe de Estado.

Prejuízos superiores a 100 mil milhões de dólares

O número de mortos é ainda indeterminado, mas pode atingir os milhares.

A empresa norte-americana Risk Management Solutions, especializada em gestão de catástrofes, estimou sexta-feira que o valor dos prejuízos é superior a 100 mil milhões de dólares.

A empresa recorda também que haverá custos significativos associados à descontaminação das terras e dos edifícios.

Cerca de 235.000 quilómetros quadrados – mais de duas vezes e meia a área de Portugal – foram devastados pelo furacão Katrina, que atingiu com particular dureza os estados do Mississippi, do Alabama e do Luisiana (sul).

É a inundação com mais prejuízos de sempre na história dos Estados Unidos, diz a Risk Management Solutions, que estima que 150 mil propriedades tenham sido inundadas. O anterior recorde americano era de 137 mil propriedades inundadas, devido à cheia no Mississippi registada em 1927.

“Vergonha nacional”

O responsável pelas operações de socorro Terry Ebbert considera o actual estado de caos e de crise humanitária em Nova Orleães uma “vergonha nacional”.

“A FEMA [agência federal para a gestão de crises] está aqui há três dias e não consegue assumir nem o controlo da situação nem a gestão da crise. Conseguimos enviar quantidades maciças de socorro para as vítimas do tsunami na Ásia, mas não somos capazes de ajudar cidade de Nova Orleães”, lamentou Ebbert.

Os jornais reflectem também o ambiente de crítica à actuação das autoridades e do Governo norte-americano.

O colunista do “New York Times” Paul Krugman questiona na edição de sexta-feira do jornal: “Porque é que a ajuda e a segurança demoraram tanto tempo a chegar?”.

Krugman afirma que os acontecimentos em Nova Orleães revelam uma “impressionante falta de preparação e rapidez na resposta das autoridades federais”.

George W. Bush atingiu esta semana os níveis de popularidade mais baixos desde que é presidente. Uma sondagem publicada quarta-feira dá conta que 53% dos norte-americanos desaprova a actuação de Bush enquanto presidente.

Os índices de popularidade de Bush são menores do que qualquer presidente da era moderna neste ponto de um segundo mandato, com excepção de Richard Nixon durante o escândalo Watergate.

Pedro Rios
Foto: Chuckumentary/Flickr