O cinema documental está em alta. Enquanto “March of the Penguins” vai dando cartas na bilheteira norte-americana, chega até nós “Dentro de Garganta Funda” (“Inside Deep Throat”), um documentário de Brian Grazer sobre um dos filmes mais polémicos de sempre.

Banido em 25 Estados norte-americanos, “Garganta Funda” (lançado em 1972 e realizado por Gerard Damiano) tornou-se no filme mais lucrativo de sempre na relação despesas/receitas: custou 25 mil dólares e rendeu 600 milhões.

É o filme pornográfico mais conhecido de sempre e levou muita gente da classe média ao cinema para ver cenas de sexo explícito, com destaque para a actriz principal, Linda Lovelace, cuja história de vida (e de decadência) é retratada no documentário de Grazer.

Mais do que nudez

Juntamente com “Behind the Green Door”, lançado no mesmo ano, o filme inaugurou a onda “porn chic”. Durante alguns anos, assistir a filmes pornográficos era bem visto socialmente. “Garganta Funda” foi determinante para a legitimação da indústria pornográfica e deu um empurrão à revolução sexual em curso.

Este sucesso colidiu com o conservadorismo reinante, numa época em que o republicano Richard Nixon governava a América. “Dentro de Garganta Funda” aborda a reacção da sociedade ao filme, a sua influência na abertura sexual e as razões que levavam as pessoas a querer ser parte da indústria.

Através de entrevistas com o realizador de “Garganta Funda” e com o actor Harry Reems, o documentário analisa o negócio da pornografia naqueles tempos, sem esquecer o lado negro da indústria, repleta de casos de droga e crime. Inclui também depoimentos do escritor Gore Vidal, o patrão da Playboy, Hugh Hefner, e o jornalista Carl Bernstein, que deu o nome de “Garganta Funda” à fonte anónima que lhe permitiu desmotar o escandâlo “Watergate”.

Léccio Rocha
Pedro Rios
Foto: DR