Composta por peças do espólio da Fundação de Serralves, a nova exposição do Museu de Arte Contemporânea (MAC), no Porto, propõe ao público uma reflexão sobre o conceito de obra de arte.

No espaço do MAC vão estar reunidos, até 15 de Janeiro, trabalhos de artistas portugueses e estrangeiros, como Fernando Calhau, Nam June Paik, Peter Campus (na foto), Damián Ortega e Rui Toscano, entre outros.

Há muito que a arte deixou de estar exclusivamente ligada às áreas da pintura e escultura. Ao longo do século XX, várias inovações (muitas delas resultantes das evoluções tecnológicas, como o aparecimento da fotografia e do vídeo) introduziram no meio diversos elementos até então estranhos.

As consequentes rupturas com os géneros tradicionais levaram a uma redefinição do conceito de obra de arte. Reinventaram-se processos criativos e esbateram-se as fronteiras entre eles. “Tableaux Vivants”, ou “Quadros Vivos” procura mostrar isso mesmo. Técnicas tradicionais como a pintura e escultura cruzam-se com vídeo e fotografia, num diálogo onde a relação movimento/imobilidade é constante. Assim se explica a dicotomia latente no título da mostra.

Interacção de géneros

Sandra Guimarães, comissária da exposição juntamente com o director adjunto do MAC, Ulrich Loock, explica ao JPN que a exposição está organizada em duas fases. Num primeiro núcleo, a pintura de Fernando Calhau sugere a ilusão do movimento e propõe o confronto com outras obras. Uma segunda fase da mostra incide na interacção entre vídeo e pintura.

“Pintar não é só pintar sobre tela, pode ser pintar com outras técnicas. Por vezes, quando vemos uma instalação, podemos fazer uma leitura que tem a ver com géneros tradicionais [como a pintura]”, refere.

Sandra Guimarães acredita que os “géneros mais tradicionais, como a pintura, continuam a subsistir e a estar presentes”. Aliás, “vários trabalhos expostos propõem uma reflexão sobre a pintura”. A comissária recusa a teoria da “morte da pintura”, e argumenta que a técnica “continua com grande vitalidade”, podendo ser “reinventada e inovada”.

“A pintura deixou de caber numa tela para ocupar um espaço”, ficando aberta à “influência de outros géneros”, concretiza a comissária. Por isso, Sandra Guimarães acredita que, hoje em dia, o lugar da pintura ainda subsiste, e defende que existe espaço para uma convivência saudável entre técnicas plásticas tradicionais e modernas.

Estão previstas duas visitas guiadas à exposição: uma no dia 20 deste mês, orientada por Sandra Guimarães, e outra a 24 de Novembro, dirigida pelo director adjunto do Museu.

Ana Correia Costa
Foto: Obra de Peter Campus/DR