Mário Soares candidata-se à Presidência da República para impedir a ascenção da direita “revanchista”, que considera que preconiza uma “subversão do regime constitucional”.

“Aproveitando o descontentamento, provocado por medidas impopulares mas necessárias, está a surgir à direita (batida nas urnas) um certo messianismo revanchista e vozes, com peso político, que reclamam abertamente a subversão do regime constitucional, utilizando para isso a eleição presidencial”, apontou Soares, na apresentação do seu manifesto eleitoral, em Lisboa.

Por isso e porque “os desafios – numa União Europeia à deriva e sem rumo seguro – tornaram-se mais perigosos”, Mário Soares volta à vida política activa um ano depois de ter anunciado o seu afastamento voluntário.

Assistiram à sessão, num hotel lisboeta, membros das comissões Política, Executiva e de Honra da candidatura de Soares, e várias figuras do PS, mas também cerca de uma centena de apoiantes, ao contrário do que anunciara a organização do evento.

“Factor de estabilidade”

Soares afirma que será, se for eleito, “um factor de estabilidade, de concórdia nacional e de segurança”. “Tenho condições únicas para evitar a crispação política e a grande conflitualidade social. Todos os portugueses sabem que, comigo em Belém, podem dormir tranquilos, passe a expressão, quanto às suas liberdades, direitos, garantias e haveres”, afirmou.

No período reservado às perguntas dos jornalistas, Mário Soares afirmou que vai entregar simbolicamente o cartão de militante número um do PS. Mas sublinhou: “Uma coisa é suspender a militância e outra coisa é suspender as convicções. Só suspende as convicções quem não as tem”, disse, recebendo palmas dos apoiantes presentes na sala.

Sublinhou também que não há risco de ser eleito um presidente da mesma cor política que o Executivo. “Não haverá maneira de ovos ficarem todos no mesmo cesto. O ovo presidencial, que serei eu, será independente. Vou para a Presidência das República com o apoio do PS, mas não para fazer a política do PS ou do Governo”, afirmou.

Soares mostrou-se “partidário do sistema semi-presidencialista, que se tem revelado suficientemente sólido e flexível para responder às diferentes situações”.

Afirmou que se for eleito vai exercer uma “magistratura de influência”, “um dos maiores poderes do Presidente da República, se o souber usar com flexibilidade, inteligência, coragem e prudência”. “Tenho essa experiência”, acrescentou.

Diferenças em relação a Cavaco

Mário Soares considerou que “muitas coisas” o distinguem de Cavaco Silva, “desde o estilo ao conteúdo”.

“O Presidente da República tem funções importantes no domínio da representação externa do Estado e como comandante supremo das Forças Armas e, por isso, é importantíssimo que tenha uma visão alargada, actual e clara do papel de Portugal na União Europeia, na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, nas relações euro-atlânticas, na NATO e na ONU”, sustentou.

Definiu-se ainda como um “político profissional” – “não tenho medo de o dizer”. Na apresentação da sua candidatura presidencial, na passada quinta-feira, Cavaco Silva disse que não é um político profissional e anunciou a desvinculação do PSD.

O socialista revelou que vai dedicar a sua campanha “ao esclarecimento, sobretudo dos mais jovens” – a camada etária que disse conhecê-lo pior.

Pedro Rios
Foto: Fundação Mário Soares