Cavaco Silva promete “cooperação estratégica” com o Executivo de José Sócrates com “qualquer governo”. O candidato a Belém defende que “as ambições de um Presidente da República não devem estar estritamente limitadas pelo horizonte temporal do seu mandato. Portugal precisa que a acção política não seja refém das ilusões dos benefícios de curto prazo e se desenvolva com sentido de futuro”.

Na apresentação do seu manifesto eleitoral [PDF], ontem, quinta-feira, na Alfândega do Porto, Cavaco apresentou várias ideias para a resolução do problema de competividade do país e outros temas. Não sendo candidato a primeiro-ministro, o discurso assemelhava-se, por vezes, a alguém que se candidatava para chefe de um governo.

“Ao Presidente da República não cabe legislar nem definir e executar políticas. São competências que, nos termos constitucionais, estão repartidas entre a Assembleia da República e o Governo. Aceito e respeito o equilíbrio de poderes previsto na Constituição que considero adequado ao nosso sistema democrático”, sublinhou, defendendo contudo uma magistratura activa e uma concepção de Chefe de Estado como “um verdadeiro agente de
desenvolvimento”, “no quadro das competências que a Constituição lhe atribui”.

Cavaco defendeu a “construção de uma sociedade mais justa e solidária e ao reforço da coesão social”, no que pode ser entendido como uma incursão no terreno de Mário Soares e da esquerda.

“Não me conformo com a percentagem relativamente elevada de portugueses que não dispõem de rendimentos para poderem usufruir de condições de vida com o mínimo de dignidade”, referiu. Defendeu ainda o combate à toxicodependência e ao alcoolismo.

“Considero dever do Presidente da República empenhar-se para que sejam ouvidos os legítimos anseios e os direitos dos grupos mais vulneráveis da nossa sociedade, como os deficientes, os idosos, os reformados, os desempregados e aqueles que, por não pertencerem a grupos organizados, não conseguem encontrar quem os defenda e alerte para as suas dificuldades”, afirmou.

O ex-primeiro ministro defendeu também a “melhoria da qualidade da nossa democracia”, o “regresso do país ao caminho de aproximação aos níveis de desenvolvimento médio da União Europeia e de Espanha”, a “recuperação dos nossos atrasos em matéria de qualificação dos recursos humanos”, a “melhoria da organização do território”, sobretudo no Litoral, e a “qualidade ambiental” e o “desenvolvimento cultural”.

Pedro Rios
Foto: Miguel Conde Coutinho/Arquivo JPN