Rui Sá não vai ocupar nenhum pelouro enquanto vereador eleito pela CDU nas eleições autárquicas. O vereador comunista considera que o pelouro proposto por Rui Rio – designado Ciência e Inovação, uma novidade na autarquia – não cumpre um dos requisitos traçados pela CDU para aceitar um pelouro: a pasta teria que ter “relevância em termos de actividade a desenvolver em prol das populações”.

Na conferência de imprensa de hoje, quinta-feira, Rui Sá sublinhou ainda que o pelouro proposto pelo presidente da Câmara teria que abranger a educação, que, segundo o comunista, é indissociável da ciência e da inovação. Esta contraproposta foi recusada por Rui Rio, uma atitude que, segundo a CDU, revela “interesses partidários mesquinhos” por parte do autarca reeleito.

Em comunicado, a coligação PCP/PEV diz que esta decisão de Rui Rio “deita por terra afirmações que proferiu [anteontem] na sua posse, em que procurava fazer crer que a maioria absoluta não se iria transformar numa maioria absolutista, autista relativamente à cidade”.

Para Rui Sá, o pelouro da Ciência reduzia-se a duas componentes essenciais: a liderança da Direcção Municipal de Sistemas de Informação e, consequentemente, do projecto “Porto Digital”, que já era supervisionado pelo comunista, e a coordenação do programa “Porto Cidade de Ciência” [DOC].

Este projecto, lançado este ano pelo Executivo de Rio, foi alvo de críticas por parte de Rui Sá na campanha eleitoral. O vereador reafirmou que se trata de um “projectinho” com pouco importância prática no fomento da ciência e feito “à revelia das universidades”.

No comunicado da CDU divulgado hoje, a coligação volta a considerar o projecto “redutor face à importância que lhe era concedida” (o programa tem um orçamento anual de 150 mil euros). Sá acusa ainda a câmara de ter centralizado “por conveniência” o projecto na Fundação para o Desenvolvimento Social do Porto, que “nitidamente não está vocacionada para isto”.

CDU reafirma independência política

Rui Sá esclareceu que, mesmo sem pelouro, o “estilo da CDU” vai ser o mesmo que foi nos últimos quatro anos, em que liderou as pastas do Ambiente e da Reforma Administrativa. Sá foi também presidente dos Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento (SMAS).

O vereador sublinhou ainda que a coligação vai votar a proposta de orçamento para a Câmara do Porto seguindo a sua consciência política, com a “mesma liberdade, por muito que se tenha dito coisas contrárias”.

“Fomos os mais críticos [da política de Rui Rio]”, afirmou. Durante o mandato anterior, Sá foi várias vezes criticado por contribuir frequentemente com a sua abstenção para a aprovação de propostas apresentadas pela coligação PSD/CDS-PP.

Pedro Rios
Foto: Joana Beleza/Arquivo JPN