Narciso Miranda, membro do Conselho de Administração da Metro do Porto, desvaloriza o relatório da Inspecção-Geral das Finanças (IGF) que aponta uma derrapagem de 129% no orçamento da primeira fase da empreitada do metro (de 1070 milhões de euros passou para 2450 milhões)”. “Relatórios de inspecções temos nós todos os dias, todos os meses e todos os anos”, afirma ao JPN.

Narciso justifica a disparidade entre os valores, alegando que “o plano de investimento para o Metro do Porto e respectiva dotação foram completamente alterados”. Diz ainda que “o modelo actual de gestão da Metro demonstrou inequivocamente que funcionou bem e que os resultados são positivos””.

O despacho governamental publicado na passada segunda-feira em “Diário da República” refere o aumento de 129% no custo da primeira fase do metro como um “acréscimo incomportável de despesa em qualquer circunstância”. Refere ainda que é necessário acrescentar aos 2.450 milhões de euros outros 120 milhões para pagar ao construtor (Normetro).

Narciso diz que foi preciso pagar linhas que não estavam previstas

Narciso Miranda considera, contudo, não ter havido qualquer derrapagem e refere que o dinheiro excedentário foi usado para investimentos que não estavam previstos inicialmente.

“Foi preciso pagar a linha de metro que está feita até ao Estádio do Dragão e que não estava prevista. Mas está feita e foi aprovada com a concordância do Governo. Ninguém acredita agora que alguém desconhecia a linha”, argumenta o ex-autarca.

“A linha Maia-Trofa e Sra. da Hora-Póvoa eram linhas simples, em que o metro só podia passar num sentido de cada vez. Optou-se por transformá-la em linha dupla para dois sentidos. Também ninguém acredita que o Governo não sabia!”, afirma.

“Daqui a dois meses estará pronta a linha para o Aeroporto, a qual nunca esteve prevista”, acrescenta o membro do Conselho de Administração da Metro.

Por isso, segundo Narciso, a derrapagem serviu para “pagar investimento”. No relatório, “esquecem-se de referir que há um agravamento de custos e que, independentemente de se investir mais nas expropriações e na requalificação urbana, há esses três casos que não estavam previstos”, sustenta.

Questionado quanto ao facto de a intervenção do metro na Avenida dos Aliados, no Porto, ter ido além do que estava inicialmente previsto – havendo agora um projecto de requalificação já aprovado cujo âmbito ultrapassa a construção das estações – Narciso diz apenas que não era possível tapar os buracos e voltar a colocar o calcário. “Nós temos de ser mais exigentes e ambiciosos”, justifica.

Projectos suspensos

O despacho governamental da passada segunda-feira determina a suspensão da segunda fase da rede de metro.

Essa segunda parte da empreitada contemplava as linhas de Gondomar, a segunda linha para Gaia e a linha da Boavista, que ficam suspensas até que seja conhecida a conclusão da análise do grupo de trabalho criado para estudar a situação da empresa.

O despacho publicado em “Diário da República” retira poder de decisão à Comissão Executiva da Metro do Porto (composta por três membros nomeados pelo Governo) em questões que envolvam aumento de despesa.

Entretanto, hoje, quarta-feira, o Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações garantiu que o projecto do Metro do Porto é para continuar e que o desenvolvimento do mesmo não está em causa.

Ana Correia Costa
Foto: Rita Braga