Narciso Miranda, membro do Conselho de Administração da Metro do Porto, não admite nem exclui a hipótese de se retirar da administração da Metro do Porto caso se verifiquem alterações profundas na gestão da empresa: “o futuro a Deus pertence”, disse ao JPN.

O ex-autarca matosinhense afirma não querer atacar o Executivo, mas, entre os comentários à decisão do Governo de retirar poderes à comissão executiva da empresa Metro do Porto, não deixa de lançar algumas alfinetadas ao poder central.

Acusa os “centralistas” de quererem cobiçar o projecto: “o metro nasceu do poder local, e como agora é apetitoso e tem muitos quilómetros de linha, as pessoas pensam que não pode ser [o projecto ficar nas mãos de autarcas]”.

“O problema é de princípio, e não dos lugares que cada um ocupa”, disse ao JPN. Narciso acrescenta que “o grande problema é que a obra do metro nasceu do poder local e dos autarcas, e ninguém acreditava que isso fosse possível”.

O antigo autarca aponta aquilo que considera ser “um facto indesmentível”: “Em Portugal, quando há êxito em investimentos do poder local, surgem perturbações, e [o sucesso] é considerado uma anormalidade, porque pensa-se que os administradores nomeados pelo Governo é que têm êxito”.

“Não estou a criticar o Governo, mas isto é uma cultura que está instalada em Portugal”. “Não é só em Lisboa que há bons gestores e capacidade para fazer bons projectos públicos”, protesta.

“Esta ideia megalómana de que só na capital é que é possível fazer investimento é um absurdo! Nós também sabemos gerir”, acrescenta Narciso.

Despacho “vai dar que falar”

Para Narciso Miranda, o despacho conjunto dos Ministérios das Finanças e das Obras Públicas “vai dar que falar”, porque a Metro do Porto “é uma SA, que tem regras na lei portuguesa”.

A comissão executiva da empresa vai reunir amanhã para analisar a legitimidade da decisão do Governo.

“O Governo tem toda a autoridade e legitimidade política e financeira” para intervir na gestão da empresa, até porque estão em causa “dinheiros públicos e comunitários”, reconhece. Contudo, defende, “outra coisa são regras de funcionamento da instituição, e cada um não pode fazer o que quer”.

“Nunca defendi projectos estáticos”

Apesar das críticas, faz questão de sublinhar: “Nunca defendi processos estáticos. Sou um grande defensor de soluções dinâmicas”, disse ao JPN. Refere, no entanto, que eventuais alterações na administração da Metro “têm de ser avaliadas pelos accionistas, os quais têm de delinear uma estratégia”.

Narciso considera eventuais alterações positivas à administação se for “para delinear a estratégia para o futuro da empresa”. E é precisamente esse futuro que estará em discussão amanhã, durante a reunião dos administradores da Metro do Porto.

Ana Correia Costa
Foto: CMP