Como fazer o luto do fim de uma relação ou da morte de alguém que se ama? “Odete” não responde a esta questão, mas coloca-nos perante duas personagens de “sentimentos excessivos” que acabaram de perder pessoas próximas.

A segunda longa-metragem do realizador João Pedro Rodrigues é projectada hoje, quarta-feira, pelas 21h30, na Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema, em Lisboa, em ante-estreia nacional.

“Odete” marca o regresso do cineasta português, cinco anos depois de “O Fantasma”, que esteve em competição no Festival de Veneza e foi eleito pela conceituada revista americana de cinema “Film Comment” como um dos melhores filmes de 2000.

“Queria que ‘Odete’ pudesse emocionar as pessoas”, confessou João Pedro ao JPN. Essa é, de resto, a grande expectativa do realizador para Portugal, onde o filme tem estreia marcada para o próximo dia 29.

“Filme de sentimentos extremos”

Sobretudo, “Odete” fala da perda, e de “como se continua sem o outro”. É um filme de “sentimentos extremos e excessivos, em que as personagens não recuam e são levadas por eles”.

E Odete (Ana Cristina Oliveira) é isso mesmo – uma mulher de excessos onde, a partir da ruptura com o namorado, o desespero encontra espaço para se expandir. “Odete transfere o luto [da perda do namorado] e sente-se perdida no mundo por uma relação que acaba”, explica João Pedro.

O argumento de “Odete” é assinado por João Pedro Rodrigues e Paulo Rebelo, e conta “duas histórias paralelas que se vão encontrar”. Há um casal homossexual – Pedro (João Carreira) e Rui (Nuno Gil) – apaixonado. Um deles, Pedro, tem um acidente de viação brutal e morre. Rui deixa-se levar pelo desespero e perde a vontade de viver.

Odete trabalha como patinadora num hipermercado e tem um sonho: ter um filho. O desejo não é partilhado pelo namorado – Alberto (Carloto Cotta) não quer compromissos, e acaba por pôr fim à relação.

Pedro e Odete são vizinhos, mas mal se conhecem. No dia do funeral de Pedro, Odete veste-se de preto e segue a mãe do rapaz até à capela funerária. Acaba por chorar a morte de Pedro. “É como se fosse um impulso. Ela tem vontade de se despedir e fazer o luto pela perda do seu namorado”, clarifica o realizador.

Devastados pela perda, Odete e Rui transformam-se em “personagens solitárias” que procuram “ultrapassar a morte e a dor e encontrar a felicidade. E conseguem encontrá-la. De uma maneira estranha, mas conseguem”, adianta João Pedro Rodrigues.

A escolha de um casal homossexual não é alheia à “vivência” de João Pedro, actualmente com 38 anos: “as personagens [Rui e Pedro] têm a ver comigo”. “Tento ser honesto comigo mesmo para que as personagens sejam credíveis”, justifica.

“O filme tem muito a ver comigo, é muito pessoal. Mas não quer dizer que seja fechado em mim”, esclarece João Pedro.

Produzido pela Rosa Filmes, “Odete” foi apresentado no Festival de Cannes, em França, onde arrecadou o prémio “Méntion Spécial Cinémas de Recherche”. Conquistou ainda o prémio de melhor filme no Festival Internacional de Cinema de Bogotá, e foi apresentado em diversos outros festivais.

Ana Correia Costa
Foto: DR