Um homem com “quatro vidas”. Foi na qualidade de autor de peças de teatro que o químico austríaco Carl Djerassi, um dos “pais” (ou a “mãe”, como ele próprio diz) da pílula contraceptiva, veio à Universidade do Porto (UP), cuja editora traduziu e publicou “Oxigénio”, uma das suas peças de teatro.

Encenada pela Seiva Trupe, a peça está, desde Janeiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto, e por lá fica até 28 de Fevereiro. Djerassi, com 82 anos, assiste hoje, terça-feira, à representação, pelas 21h45.

Afirmando-se como um “polígamo”, dividido entre a ciência, a academia, a literatura de ficção e o teatro, Djerassi, considerado pela “Time Magazine” como uma das 30 personalidades mais importantes do milénio, considera-se um “cientista ambicioso”. “O que é que significa conseguir algo? Acabar uma investigação e matar a curiosidade? Não é suficiente. É necessário partilhar o conhecimento com o público”, disse, numa conferência hoje, na Faculdade de Ciências da UP.

Teatro científico-pedagógico

Em 1985, Djerassi decidiu que queria ser um “contrabandista intelectual”. Ao contrário de muita ficção científica, quis contar (em romances, novelas ou peças de teatro) histórias com veracidade científica, que servissem para transmitir conhecimentos científicos à população.

“Oxigénio”, co-escrita com o Prémio Nobel da Química Roald Hoffmann, é disso exemplo: o texto aborda a importância de se ser o primeiro a descobrir algo. Quem descobriu o oxigénio? Lavoisier, que lhe deu nome, Carl Scheele, que o identificou em 1773, ou Joseph Pristley, que publicou primeiro um artigo científico sobre o gás?

Noutras peças, Djerassi levanta outras questões. “Taboo”, que estreia quinta-feira, em Londres, propõe a reflexão sobre o casamento homossexualidade e a fertilização artificial em casais “gay” e heterossexuais.

Para o cientista, “o sexo e a reprodução não podem ser regulamentados”. O casamento homossexual devia ser uma “decisão individual” e os casais com cônjuges do mesmo sexo deviam ter direito a educar crianças, recorrendo à fertilização artificial. “Há muitas mães solteiras. O que é que é melhor? Dois pais do mesmo sexo ou só um?”, questionou.

Carl Djerassi defende ainda a “separação entre sexo e reprodução”, apesar de haver “quem veja isto como uma ameaça aos valores da família nuclear”. O químico recorreu a estatísticas da Organização Mundial de Saúde para sustentar que a maioria das relações sexuais é feita sem o objectivo de engravidar. “Sem a descoberta da pílula, teria havido milhares de abortos”, referiu.

Texto e foto: Pedro Rios