O antigo presidente da Comissão Europeia, Jacques Delors, defendeu hoje, sexta-feira, a necessidade de se centrar a economia nas pessoas. Para tal, é preciso atender às características próprias dos cidadãos, disse.

Delors, que foi o orador principal da sessão de abertura das Semanas Sociais em Braga, mostrou-se preocupado com a possibilidade de “a economia de mercado se transformar numa sociedade de mercado”, numa altura em que se pensa e se age “num mundo em mutação rápida”.

O histórico líder europeu alertou para um “novo darwinismo” que se está a implantar. Esta nova visão da teoria da evolução é inquietante no sentido em que “as novas ideologias”, a nível empresarial ou mesmo governamental, estão a “aceitar os critérios financeiros” como critérios fundamentias para a definição das suas políticas.

Lembrando os escritos de John Rawls, Delors afirmou que há que ter em conta as diferenças dos elementos menos beneficiados da sociedade e assegurar uma igual liberdade de acesso à saúde, à educação e ao trabalho.

O político francês considera necessário repensar a economia global, começando na Organização Mundial do Comércio, mas não se ficando por aí. Para Delors, há que compreender a “emoção” das pessoas quando se vêem confrontadas com os paradoxos de políticos que num dia dizem que se devem receber os imigrantes como novos elementos de uma sociedade e noutro já “publicam panfletos” em que realçam o direito dos cidadãos nacionais a ter prioridade no emprego.

“Agravamos as preocupações dos cidadãos quando não colocamos tudo em cima da mesa, quando sucumbimos à nova ideologia de mercado”, afirmou Delors. E deixou um apelo: “solidariedade interna, com certeza, mas não nos podemos esquecer dos nossos deveres de cidadãos do mundo”.

Falando para uma sala cheia no Seminário Menor de Braga, Jacques Delors esclareceu que, na nova economia, “o cidadão está no centro do problema”.

Segundo Delors devia existir, no quadro das Nações Unidas, um “Conselho de Segurança económica” que regulasse as desigualdades a nível mundial.

O antigo Presidente da Comissão explicou que, no enquadramento actual, a União Europeia “prefigura as regras do que podia ser uma organização mundial mais justa”, lembrando que os seus membros abdicaram de vários privilégios nacionais para formar a União.

Texto e foto: Tiago Dias