Excelência e profissionalismo confirmados numa das melhores exibições de flamenco já vistas no Porto.

Chegam ao palco como quem entra num qualquer café e tocam e dançam com a naturalidade de quem nunca fez outra coisa. Paco Peña entrou este sábado na Sala 1 da Casa da Música acompanhado da sua “Flamenco Dance Company”
para a estreia nacional do espectáculo “A Compás!”. O público, que quase enchia a sala, teve dificuldade em refrear os aplausos, ao ponto de dificultar a audição de músicas que, ainda a meio, eram já aclamadas.

Após uma primeira exibição de “bulería” clássica, com várias guitarras, bailarinos e vozes ciganas, o registo tornou-se subitamente mais intimista. Somente Paco Peña permaneceu em palco para uma exibição de flamenco moderno de um virtuosismo quase incomparável.

A naturalidade, profissionalismo e experiência de um artista tornam-se são claros quando é óbvio que este poderia tocar com ao mesmo nível imaculado enquanto pensa no almoço do dia seguinte. Os dedos de Paco Peña percorreram o braço da sua guitarra flamenca ao ponto de já só ser distinguível uma mancha cor de pele, mas a sua expressão permanecia imperturbável, enquanto olhava o público com uma certa condescendência e serenidade.

O concerto, com mais de duas horas, desenvolveu-se através de repetidos contrastes entre festa cigana e guitarras singelas, sendo que ambos os registos chegaram a pasmar a audiência tanto pelo virtuosismo das vozes, da dança e dos instrumentos. Os momentos mais arrepiantes não eram os de aplauso efusivo, mas os breves segundos em que, finda a música, o silêncio incrédulo se instaurava para dar lugar a ovações em pé.

Apesar das variações de tom o espectáculo foi coerente pela constante qualidade na execução dos temas e ecléctico ao ponto de misturar várias batidas tribais, pormenores demarcadamente árabes e devaneios jazzísticos que elevaram o flamenco a um nível actual, ainda que com fortes características clássicas.

Paco Peña é natural de Córdoba, Andaluzia, onde inaugurou uma escola de flamenco, e possui uma carreira de já 40 anos. Foi considerado o melhor guitarrista de flamenco do mundo inúmeras vezes, por várias revistas dedicadas à guitarra.

André Sá
Foto: DR