Na XXVII edição dos Colóquios de Relações Internacionais da Universidade do Minho, sublinhou-se a relação cordial existente entre Portugal e a China.

Qual a importância da China no sistema internacional? A China, como emergente potência política, económica e militar, representa uma ameaça? As relações luso-chinesas são um perigo para Portugal ou uma hipótese de crescimento? Foram estas as principais questões que conduziram hoje, terça-feira, à realização dos XXVII Colóquios de Relações Internacionais, na Universidade do Minho (UM), subordinado ao tema “A ascensão da China: que dilemas?”.

Num auditório cheio de ouvintes atentos, Acílio Estanqueiro, vice-reitor da UM, e Luís Lobo-Fernandes, director do departamento de Relações Internacionais e Administração Pública, abriram os colóquios da universidade, que já se repetem desde 1979. Na sessão de abertura, foi vincado o objectivo das palestras, que, segundo Liliana Barros, presidente do CECRI (Centro de Estudos do Curso de Relações Internacionais), têm como primeiro propósito alargar a reflexão e o debate sobre os temas e dilemas mais prementes da actualidade.

No primeiro painel do dia, em que se discutiram as relações centenárias da China e de Portugal – com Macau como pano de fundo -, o vice-reitor da UM, e antigo director do departamento de relações internacionais, sublinhou “a paz e a amizade” com que se pauta a coexistência de Portugal e da China.

Mas não foi esquecida a crise de valores por que atravessa o gigante asiático. Foi nesta perspectiva que se discutiu a problemática do capitalismo e o modo como esta interfere na afirmação dos valores tradicionais.

Numa fase de projecções quanto ao futuro, considerada pelo embaixador João de Deus Ramos, da Fundação Oriente, como um momento “excelente de relações a todos os níveis”, foi defendido que as ligações entre o triângulo Lisboa – Pequim – Macau devem ser retomadas a maior escala.

Para Ana Cristina Alves, do Centro Científico e Cultural de Macau, Portugal deve desenvolver uma política cultural, de modo a criar novas marcas culturais em Macau e a recuperar a importância simbólica. “Macau não é apenas uma plataforma económica”, disse a oradora, e sendo uma “janela da China” – dos chineses para o Ocidente e de Portugal para a China – “deve apostar-se no intercâmbio”.

Reforço das relações económicas

Da parte da tarde os colóquios prosseguiram com a discussão da abertura da economia chinesa em Portugal, com a presença de Rui Pereira, do ministério da Economia e Inovação, Y Ping Chow, da Liga de Chineses de Portugal, e ainda Renato Homem, da API (Agência Portuguesa para o Investimento).

Neste painel que procurou estabelecer um contraponto entre o investimento chinês no país e o investimento de Portugal na China, Rui Pereira vincou que apesar de Portugal manter um défice comercial relativamente ao país asiático, as exportações portuguesas têm aumentado. Mas apesar dos dados serem positivos, Portugal deve apostar num “reforço das relações económicas”. “O investimento directo é ainda pouco significativo”, disse.

Renato Homem, da API, justificou a quase inexistência de apostas comerciais de Portugal na China atendendo às questões geográficas. Contudo, o contrário não se verifica. “A distância entre duas cidades na China é equivalente à distância entre Portugal e Munique. Por isso faz sentido a China vir para Portugal porque assim consegue posicionar-se na Europa”, disse, mencionando o exemplo da empresa ZTE, multinacional chinesa em Portugal.

A possibilidade de desenvolver relações comerciais e diplomáticas em Portugal não são os únicos factores que justificam a presença da comunidade chinesa no comércio português. Diz Renato Homem que a estes atractivos acresce o facto de Portugal ser um país tranquilo, sem tradição terrorista.

Os Colóquios de Relações Internacionais, organizados pelos alunos de Relações Internacionais da UM, prosseguem amanhã na UM com o debate de questões da ordem de segurança e de defesa na China.

Rita Pinheiro Braga