Continuou hoje, segunda-feira, o julgamento do caso Vanessa, menina que foi encontrada morta no rio Douro em Maio do ano passado. Nesta sessão foram ouvidas algumas testemunhas arroladas no processo. O depoimento mais aguardado era o de Filipe, companheiro de Sandra, tia da menina, acusada de omissão de auxílio e de ocultação de cadáver.

Quando questionado sobre como era a convivência entre Vanessa e a família paterna, Filipe disse que quase nunca falava com a menina mas que notava que ela “era triste e calada”. O depoimento de Filipe ficou marcado por contradições face ao depoimento dado pela companheira, Sandra, as falhas de memória foram justificadas pela testemunha como “fruto do vício do haxixe”.

Filipe descreveu as duas vezes que viu Vanessa ser maltratada, lembrando o episódio do ferro de queimar leite-creme. A testemunha contou que estava no quarto com a Sandra e saiu quando ouviu a sobrinha chorar. Na cozinha viu Paulo, o pai da menina, com um ferro de queimar leite-creme a ameaçar a filha, mas não precisou se o ferro estava ligado nem tinha a certeza se Paulo tinha chegado a queimar a menina.

Esta foi a primeira incoerência face ao depoimento de Sandra – a tia da menina havia dito, no dia 14 de Março, que Vanessa tinha sido queimada no quarto de Paulo, acontecimento que o irmão e Aurora, a avó da vítima, negaram.

Ainda relacionado com os castigos infligidos à menina, Filipe lembrou um episódio em que encontrou Vanessa fechada na despensa, mas referiu que não sabia o motivo do castigo. Entretanto, voltou a contradizer-se quando afirmou que não sabia se se tratava de um castigo ou se Vanessa se tinha fechado lá dentro para se esconder da avó.

Questionado sobre o dia em que a criança morreu, Filipe disse que a companheira esteve o dia todo com ele em casa, só saindo por volta das 22h00 para ir à casa da mãe buscar fraldas. “Depois fomos levar o cão à rua e a Sandra começou a receber mensagens da mãe. Como não tinha saldo foi lá a casa. Quando voltou disse-me que a Vanessa tinha morrido e ficou comigo a noite toda”. Ao Ministério Público, Filipe referiu que não perguntou nada à companheira e que desconhecia as causas e os pormenores do falecimento da menina.

No entanto, Sandra, numa sessão anterior, disse que recebeu mensagens da mão ao fim da tarde e não à noite como referiu o companheiro. E contou que tinha relatado ao companheiro todos os momentos em que a mãe, Aurora e o pai, Paulo castigavam a menina e a queimavam com água a ferver no banho.

Lembre-se que no depoimento de Paulo do dia 29 de Março, o pai de Vanessa insinuou que o Filipe batia na menina quando esta lhe mexia no computador, facto que o companheiro de Sandra negou.

A audiência de hoje ficou ainda marcada pelas palavras de Sandra. No final da audiência, Sandra disse ao companheiro: “Vou pagar inocente e tenho dois filhos para criar” e “porque é que não contaste tudo? Tiveste medo?”.

Hoje ainda depuseram as duas filhas da madrinha de Vanessa, Maria Rosa. Ambas afirmaram que a menina ficava triste sempre que tinha de ir para a casa da avó e confirmaram a versão da mãe.

A audiência continua amanhã às 13h30 no Tribunal São João Novo.

Paula Teixeira