Dez meses depois da explosão de um prédio na rua de Santa Catarina, no Porto, que vitimou um casal de idosos e desalojou cerca de 20 pessoas, os moradores continuam sem saber as causas do acidente.

Comerciantes, proprietários e inquilinos estão descontentes com a inércia e o silêncio das autoridades competentes. Hoje, quinta-feira, as vítimas do acidente manifestaram-se no local onde outrora existia o prédio, que acabou por ruir devido à explosão, e enviaram uma carta à Procuradoria-Geral da República (PGR) em forma de protesto.

A carta, assinada por comerciantes, proprietários e inquilinos, é uma tentativa de resolver a situação de dezenas de pessoas. “Há muita gente envolvida, já vamos com mais de 100 assinaturas”, afirmou Carolina Duarte, moradora na zona. “Só queremos um relatório que divulgue o que de facto aconteceu naquela noite”, explica.

Apenas algumas das pessoas afectadas pela explosão têm recebido ajuda da Segurança Social, que assegura o alojamento numa pensão e a alimentação.

Fernando Gomes, de 76 anos, dono de uma barbearia num prédio vizinho, onde também morava há 44 anos, continua com a casa sem condições habitacionais, como o JPN pôde constatar. “Até agora não tive apoio de ninguém”, afirma. E lamenta: “a freguesia [da barbearia] foi-se”.

Talho de Gaspar SousaGaspar Sousa, de 62 anos, fechou as portas do seu talho no dia 28 de Junho de 2005 e nunca mais as pôde abrir. “A minha vida foi toda aqui”, conta, ao JPN, com a voz tremida e sem esconder as lágrimas. “Desde os 10 anos de idade dedicou a sua vida ao talho, que era do seu pai e que passou para ele”, acrescenta a esposa Maria do Céu.

Segundo Carolina Duarte, “qualquer esclarecimento pela Polícia Judiciária [tem sido] sistematicamente recusado”. “Alegadamente o caso estará sob segredo de justiça”, diz.

“Só queremos que se apurem responsabilidades”

Na altura da explosão especulou-se se o acidente não teria sido um acto criminoso. Carolina Duarte afirma: “Não nos compete a nós saber se foi ou não foi. Para nós foi um acto criminoso porque morreram duas pessoas, sete famílias estão desalojadas e estão pessoas impedidas de voltar às suas casas, e estamos a suportar custos elevadíssimos não só a nível material e monetário, mas também com graves problemas de saúde”.

“Apelamos ao senhor Procurador-Geral da República, como instância máxima de justiça deste país, que olhe para este caso”. “A única coisa que queremos é que se apurem as responsabilidades e que nos dêem conta, de facto, do que se passou, para que as seguradoras possam agir em conformidade”.

Os moradores não pretendem ficar de braços cruzados caso não obtenham nenhuma resposta, e prometem mover processos em tribunal. “Se a PGR não nos responder a este pedido no tempo que achamos razoável, iremos assinar várias queixas-crime contra incertos para tentar apurar responsabilidades e tentar perceber a quem podemos acercar culpas neste processo, que até agora é só de boas intenções”, afirma Carolina Duarte.

A moradora diz que a autarquia quer ajudar, mas está de mãos atadas. “A Câmara [do Porto] mostra-se disponível para falar connosco sobre estes assuntos, mas, alegadamente, não pode intervir porque administrativamente estará impedida de o fazer por não poder agir enquanto não houver relatório da Polícia Judiciária”, afirma.

Gina Macedo
Fotos: Rita Pinheiro Braga