Os 25 manifestantes que ocuparam cerca das 23h de ontem, domingo, o Teatro Rivoli, no Porto, não cedem ao pedido da Culturporto e prometem não abandonar o protesto enquanto não houver diálogo.

Durante a manifestação que reuniu na tarde de hoje, segunda-feira, cerca de uma centena de pessoas junto àquele teatro o presidente da Câmara do Porto foi o principal alvo das críticas de actores, produtores, espectadores e habitantes da cidade do Porto.

E porque a “manifestação é pela arte”, como muitos diziam, a música cantada pelos jovens actores foi o ponto de partida para o protesto contra a intenção da autarquia de privatizar a gestão do teatro municipal.

“Rivolixo”, “Rivolução”, “o Rivoli é nosso” ou “abram as portas” foram algumas das palavras de ordem que se ouviram durante a vigília que começou com a leitura de um comunicado que explicava os motivos da manifestação: a recusa de um teatro gerido e programado em função da rentabilidade das produções culturais, a necessidade de garantir o acesso dos núcleos de produção da cidade e de um trabalho na formação contínua do público, por parte da direcção.

Inês Leite, actriz “freelancer”, era uma das mais inconformadas. Segundo ela, com o modelo de gestão que a câmara quer implementar, o “acesso à cultura não é democrático”. “Espero que esta manifestação faça com que o senhor Rui Rio perceba o que os munícipes do Porto querem para a cultura da cidade”, disse.

No interior do teatro, e com a ajuda do microfone, os ocupantes davam voz à sua revolta. “Assumimo-nos como um grupo de revoltados que está à espera que alguém venha dialogar connosco”, declarou uma das responsáveis pela companhia Teatro Plástico.

Mais tarde, juntaram-se ao protesto algumas figuras conhecidas da cidade. António Capelo, conhecido actor e professor de teatro, foi “solidarizar-se com o protesto de muitos dos seus alunos” que lá se encontravam. Na opinião do actor, a proposta da Câmara do Porto não é “um bom negócio” não só porque “o Rivoli é um teatro de serviço público”, mas também porque “priva o público do Porto de uma diversidade de programas culturais”.

“O caderno de encargos exige quatro produções anuais, o que me parece muito pobre face ao investimento que se fez no teatro”, explicou ao JPN António Capelo.

João Teixeira Lopes, deputado do Bloco de Esquerda, também quis marcar presença no dia em que “o Porto acordou da letargia”. “É um abanão da cidade contra os poderes públicos instituídos, contra a calculadora do doutor Rui Rio e contra a resposta da ministra da Cultura que é, uma vez mais, reveladora de demissão cívica”, afirmou.

Para o antigo candidato à Câmara do Porto, o modelo de gestão tem que ser de “acessibilidade”. “A cultura dá prejuízo e nunca foi um negócio”, defende. Por isso, Teixeira Lopes espera que a câmara “dê explicações sobre esse processo pouco transparente”. “Hoje somos todos ocupantes”, rematou.

Texto e foto: João Queiroz
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