A propósito do 96º aniversário da Universidade do Porto (UP), o ex-ministro da Educação Veiga Simão faz um balanço positivo da instituição no contexto nacional: “A Universidade do Porto é um orgulho para a cidade do Porto, mas também pela sua história, pelas suas realizações científicas e culturais, é uma instituição de dimensão nacional, europeia e internacional”.

Para Veiga Simão, a importância da UP para o desenvolvimento do país é “incontestável”, já que foi o berço de “grandes mestres das ciências puras, das ciências aplicadas, das humanidades, da engenharia, da medicina, da arquitectura, que são o orgulho da inteligência nacional e que tiveram influência no desenvolvimento do país”.

Licenciado em Ciências Físico-Químicas, Veiga Simão foi reitor da Universidade de Lourenço Marques (actual Maputo), em Moçambique (1963 a 1970). Dessa experiência, recorda um dos momentos em que a UP marcou a história da educação em Portugal: “a UP deu uma contribuição inestimável para a criação e progresso de universidades nos novos países de língua portuguesa”. Veiga Simão relembra ainda a colaboração do ex-reitor da UP Alberto Amaral nesse processo de criação e fundação de universidades em Angola e Moçambique.

É pela sua dimensão que a UP se distingue das outras instituições do ensino superior. “A Universidade do Porto naturalmente que se distingue pela sua dimensão, pelos seus 1.500 doutores, que têm 20% da produção científica nacional, pelos seus 28.000 estudantes, dos quais 10.000 frequentam cursos de pós-graduação (mestrados e doutoramentos)”, refere Veiga Simão.

Universidade de investigação

Para o professor catedrático, estes números dão “uma ambição legítima” para a UP se tornar numa “universidade de investigação”, mas é necessário que o poder político saiba “definir uma visão estratégica para o ensino universitário em Portugal”.

Nesta “universidade de investigação”, será necessária “uma componente empresarial aberta à internacionalização, que tem que ser sempre suportada por um ensino de primeiro ciclo de qualidade excepcional, onde naturalmente prevalece o ensino tutorial, o ensino de grande ligação ao aluno”, defende Veiga Simão. “O acompanhamento dos alunos desde a sua entrada na universidade até ao seu emprego deve fortalecer-se cada vez mais”, sublinha.

“Iniciativas de futuro”. É assim que Veiga Simão define as unidades de investigação da Universidade do Porto e as suas parcerias público-privadas “inseridas em ‘clusters’: os transportes, as ciências da vida, a energia e o ambiente”.

Imbuído no espírito da Universidade Lourenço Marques, Veiga Simão afirma que a abertura da universidade à comunidade “deve fortalecer-se cada vez mais” na UP. “O poder político deve criar condições para que isso aconteça, permitindo a alteração de modelos de organização do governo académico, mas sempre dentro de um princípio que tem sido constante na UP: uma certa fidelidade à independência de pensamento”, defende.

“Diria que aqueles que frequentam a UP devem cada vez mais evidenciar-se por essa independência de pensamento, pela frontalidade, por uma polémica saudável, e terem orgulho na descoberta e produção cultural, artística, científica, médica que são marcos na história da educação”, acrescenta o ex-ministro da Educação.

Internacionalização é o caminho

Para o professor catedrático, a UP deve apostar da “internacionalização” e na “ligação com as outras universidades e outras instituições” para aumentar a “competitividade de Portugal entre nações” e fortalecer “a coesão nacional”.

Mas será que a UP reúne as condições necessárias para garantir essa competitividade? A resposta do ex-ministro é peremptória: “há muito a conquistar, mas existe um potencial enorme”. “A UP tem sabido aproximar-se até em várias parcerias público-privadas que tem desenvolvido, e estou seguro de que, se os governos não cometerem erros (como sejam, por exemplo, os sérios cortes no orçamento), e premiarem o mérito, a UP tem um grande futuro”.

Veiga Simão foi ministro da Educação Nacional entre 1970 e 1974, embaixador de Portugal nas Nações Unidas nos dois anos seguintes, ministro da Indústria e Energia de 1983 a 1985 e ministro da Defesa Nacional entre 1997 e 1999.