Como se de uma música da própria banda se tratasse, o concerto dos Wolf Eyes começou morno, foi crescendo até atingir um pico de intensidade, para depois terminar rapidamente com o melhor momento da noite.

“O que é que tem nove braços e não presta?”, perguntava John Olson no princípio do concerto. Resposta: os Def Leppard. Foi com muito boa disposição que se iniciou o espectáculo dos Wolf Eyes, ontem, terça-feira, à noite, no Passos Manuel, no Porto. Mas a boa disposição, por muito que se queira, não faz com que um concerto seja bom.

Composto por três partes, o concerto da banda de Michigan durou cerca de uma hora numa sala a metade da lotação. Num ritmo estruturado e consistente, a pouco e pouco o som foi aumentando de intensidade. “Muito mais alto, por favor”, pedia Nate Young, na primeira pausa. Assim foi. Com o volume finalmente aumentado a níveis em que se podiam sentir as batidas por todo o corpo, o concerto ganhou outra dinâmica.

O “noise” dos Wolf Eyes é, apesar de tudo, ligeiro. Dentro de um género em que a destruição sonora e a imprevisibilidade fazem os melhores, os Wolf Eyes primam pela ausência destes elementos, pelo menos em demasia. O seu som é caótico, por vezes agressivo, mas nunca sai de um determinado tipo de limites auto-impostos pela banda. Talvez por isso sejam olhados de lado pelo movimento “noise”.

O som da banda de Nate Young, Aaron Dillaway e John Olson, envolve elementos de vários géneros fora da electrónica, tornando-se previsível – o que nem sempre é mau. O que é mau é que querendo ser extremos, os Wolf Eyes não consigam quebrar, ou talvez nem tentem, os limites. Ou seja, de extremo têm apenas a sonoridade que deriva do tipo de música que fazem, não das atitudes ou intenções que possuem. O que, em última instância, os torna aborrecidos.

Ainda assim, o concerto foi bem passado, apesar do espaço não se adequar à intensidade do grupo. Os Wolf Eyes não são para serem vistos sentados, mas a presença da banda no Porto é, por si só, um ponto positivo. Sexta-feira, dia 24, actuam na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.

Tiago Dias
Foto: Ana Sofia Marques