Este sábado, o Estádio do Dragão foi o palco de um bom jogo de futebol entre o campeão nacional FC Porto e o Santa Clara, que 16 anos depois, está de volta à Primeira Liga e a fazer um grande campeonato.

A vitória pela margem mínima dos dragões – 1-0, golo de Moussa Marega – foi justa, garantindo os três pontos que deixam os azuis e brancos na liderança à espera do resultado do Benfica (joga esta segunda-feira, em casa, com o Marítimo).

Sem margem para erros, o FC Porto recebeu o surpreendente Santa Clara, depois da despedida da Liga dos Campeões. Na antevisão da partida, Sérgio Conceição e João Henriques concordaram que a Liga não “protegeu” os dragões com o agendamento do jogo para sábado.

Nos onzes, Corona, com algumas limitações físicas, não foi opção inicial para Sérgio Conceição, que deu o lado direito do ataque a Otávio. A grande novidade, contudo, não estava entre os titulares. Mais de meio ano depois, Vincent Aboubakar voltou às fichas de jogo e Sérgio Conceição ganhou mais uma grande solução para a reta final da época.

Do lado do Santa Clara, João Henriques apostou num meio-campo mais robusto do que o normal no seu 4-4-2 losango com as inclusões de Kaio e Chrien, jogadores mais combativos do que Chico Ramos (castigado) e Ukra, os homens que saíram do onze.

Devagar, devagarinho…

Por muita bola que tivesse, o FC Porto não estava, nos primeiros dez minutos de jogo, a conseguir ser avassalador. O jogo estava a ser tranquilo para o Santa Clara que, a espaços, ia ganhando confiança e mostrando o seu bom futebol.

Aos 12 minutos, surgiu a primeira grande oportunidade para o FC Porto: depois de uma jogada de insistência, Herrera ganha espaço na área para cruzar para a finalização de primeira de Soares, mas Marco defendeu por instinto.

A tendência do jogo, por muito paradoxal que pareça, cada vez se percebia menos. O Santa Clara jogava sem complexos, mas aos 18 minutos já se via a perder. Na sequência de um remate de Otávio defendido por Marco, Marega apareceu à boca da baliza para dar vantagem aos portistas.

A vantagem alcançada valia ouro nesta altura. Apesar de estar a perder, o Santa Clara começou a atacar muito menos, muito por culpa da maior atenção dos jogadores do FC Porto na hora de defender. A exceção deu-se aos 39 minutos, quando, na sequência de uma grande abertura de Bruno Lamas para a esquerda, João Lucas cruzou para o golo de Guilherme. O avançado brasileiro estava em fora de jogo.

Ainda que não estivesse a criar oportunidades de golo, o FC Porto chegou ao intervalo a vencer bem por 1-0. Ainda assim, uma vantagem de um golo é sempre muito traiçoeira. Se o jogo continuasse assim na segunda parte, era provável que, mais tarde ou mais cedo, o FC Porto fosse sufocado. Sérgio Conceição já tinha deixado um sinal aos jogadores, quando pôs Óliver e Fernando Andrade a aquecer.

As aparências iludem

Os primeiros minutos da segunda parte mostraram uma subida de rendimento do FC Porto, sobretudo ao nível da reação à perda de bola. Sem ter feito substituições, Sérgio Conceição parecia ter deixado uma mensagem bem vincada no balneário.

O ritmo de assédio à baliza açoreana foi, no entanto, cortado pela lesão de Otávio. Depois da paragem para assistência ao brasileiro, o Santa Clara teve uma grande oportunidade para empatar. Aos 58 minutos, Patrick fez um grande cruzamento bombeado ao segundo poste e Guilherme obrigou Casillas a uma excelente defesa. O Dragão aplaudiu Casillas, mas pouco depois aplaudiu de pé um outro protagonista: Aboubakar saiu para aquecimento.

Dança dos bancos e FC Porto por cima

Foi à passagem do minuto 60 que os bancos começaram a mexer. Primeiro foi Sérgio Conceição a gerir a condição física dos seus extremos: Otávio e Brahimi saíram e deram lugar a Corona e Otávio. Do lado do Santa Clara, João Henriques foi ousado como se lhe pedia: lançou Ukra (jogador muito aplaudido no Dragão, onde foi formado) para o lugar de Chrien. Com esta alteração, o Santa Clara passava a ter mais qualidade com bola e mais uma arma apontada a Casillas.

O tempo ia passando e a sensação de que o FC Porto estava melhor na segunda parte do que na primeira acentuava-se. Apesar de ter sido neste período a melhor oportunidade de golo do Santa Clara, o FC Porto nunca estivera tão forte e aos 67 minutos, Corona rematou, dentro da área, pouco por cima da baliza de Marco.

Aos 73 minutos, João Henriques foi mais longe. O treinador do Santa Clara, com cerca de 20 minutos para jogar, juntou Santana a Guilherme na frente de ataque e ficou com duas referências de área. Como o resultado e o jogo estavam, o FC Porto podia, na sua melhor altura do jogo, ver ruir uma vantagem que tinha sido conquistada na pior altura do jogo. Este era, sem dúvida, um jogo muito sui generis, mas com o resultado completamente em aberto.

Desperdício e trancas no meio-campo

Para aumentar a ansiedade dos jogadores, do treinador e de todo o Estádio do Dragão, aos 75 minutos Fernando Andrade, em excelente posição, não conseguiu aproveitar uma grande jogada de Corona. Marco fez uma defesa magistral.

O golo da tranquilidade tardava em aparecer e Sérgio Conceição decidiu ser realista: como o jogo estava, o FC Porto podia marcar mesmo tendo só um avançado. O técnico decidiu apostar em Óliver Torres para os últimos dez minutos, substituindo Soares e dando à equipa mais capacidade de ter a bola, ou melhor, de não a perder.

Três pontos assegurados

Até ao final da partida, a ideia de Sérgio Conceição resultou. O FC Porto continuou por cima, mas a entrada de Óliver deu critério e calma aos azuis e brancos em alguns momentos.

Os dragões estão, à condição, na liderança do campeonato e, mais uma vez, deixam a pressão do lado do Benfica, que completa a jornada 30 esta segunda-feira.

O Santa Clara deixou boas indicações no Estádio do Dragão e provou que tem equipa para ainda subir uns lugares na tabela classificativa.

“Grande mentalidade”

Sérgio Conceição apareceu na sala de imprensa satisfeito com a vitória e elencou as dificuldades que tornaram este um jogo diferente: “O Santa Clara é uma equipa que cria muitos problemas. Em Alvalade tiveram oportunidades para não perderem. Além disso, era um jogo pós-Champions League. Houve uma grande mentalidade da parte dos meus jogadores”.

Quanto ao regressado Aboubakar, Conceição frisou que o camaronês “tem respondido bem nos treinos“, pelo que está pronto a avançar para o terreno de jogo.

“Queremos ficar na história”

Por sua parte, João Henriques mostrou-se “orgulhoso” pela exibição dos seus jogadores e revelou que o grupo continua com “ambição”.

“Os jogadores do Santa Clara mostraram a sua qualidade individual e mostraram a qualidade do trabalho que desenvolveram desde o início da época. Este vai ser o Santa Clara até ao fim da época a tentar alcançar a melhor classificação de sempre“, afirmou o treinador aos jornalistas. “Queremos ficar na história”, afiançou.

Na próxima semana, o FC Porto desloca-se a Vila do Conde para defrontar o Rio Ave e o Santa Clara recebe o Vitória de Setúbal.

Artigo editado por Filipa Silva