A ideia de criar uma “parceria” surgiu do interesse comum das duas instituições em divulgar a cultura e a arte. A Fundação de Serralves promove os eventos culturais e o “Público” divulga as iniciativas. O acordo agora formalizado vem assim dar continuidade a esse projecto comum.
José Manuel Fernandes, director do jornal “Público”, disse ao “Jornalismo Porto Net” que o protocolo com a Fundação de Serralves “é um valor acrescentado para os leitores”, pois irá permitir a divulgação dos eventos culturais daquela instituição entre o público do jornal.

Assinado por João Silveira Lobo e António Gomes Pinho, presidentes dos Conselhos de Administração do “Público” e da Fundação de Serralves, respectivamente, o protocolo irá permitir a edição de uma newsletter para a divulgação das actividades culturais da Fundação, bem como a criação de projectos na área da educação ambiental. Além disso, as publicações da fundação passarão estar disponíveis nos postos de venda dos jornais. Por outro lado, a partir de agora, o “Público” poderá ser encontrado à venda em Serralves.

Directores à conversa

Depois das formalidades, o debate a duas vozes. José Manuel Fernandes e João Fernandes falaram de cultura e comunicação e da importância dos media na divulgação cultural. Os papéis inverteram-se: João Fernandes lançou o debate e o director do “Público” deixou-se ‘entrevistar’. No ar ficou a ideia de que há ainda muito a fazer no campo da divulgação cultural.

João Fernandes, director do Museu de Serralves, começou por salientar que “o “Público” é o primeiro diário que privilegia a informação cultural”. O director do “Público” respondeu ao desafio e começou por dizer que “os media têm um poder sobre o qual nós não temos sequer qualquer noção”. José Manuel Fernandes deixou o alerta: “podemos estar a condicionar o sucesso ou insucesso de uma exposição, de um filme ou de um livro”, pois a “crítica de um livro ou de um Cd pode modificar completamente as vendas dessa obra”.

“Nunca fomos um «Acontece»”

José Manuel Fernandes aproveitou ainda para lançar críticas à forma como é feita a divulgação cultural pelos media portugueses. Quanto ao extinto “Acontece” (canal 2 da RTP), o director do “Público” refere, em tom crítico, que com o programa “garantia-se a quota da cultura na televisão”. Para o jornalista, essa “quota” era insuficiente e limitadora, pois a divulgação cultural ficava reservada a um horário restrito. Referindo-se ao “Público”, José Manuel Fernandes garante: “nunca fomos um “Acontece” na área da cultura”.

No que diz respeito à questão “quem manda na cultura em Portugal”, o director do “Público” sublinha que, “principalmente na área das artes plásticas”, há “um grupo muito pequeno de pessoas que está simultaneamente em muitos sítios”, fazendo com que o meio fique cada vez mais fechado.

“Abrir horizontes ao mundo”

José Manuel Fernandes salientou também a importância do “Público” e da imprensa diária no conjunto da informação. Para o jornalista, a imprensa permite a divulgação daquilo que “nos outros meios entra por um ouvido e sai pelo outro”. O jornalista alerta ainda para o facto de os jornais serem “dominados por temas que não deviam dominar”, e garante que “o modelo do “Público” é tentar romper com isto”. Para José Manuel Fernandes, o jornal tenta “abrir horizontes ao mundo”

Capacidade de surpreender

Encontrar “motivos de interesse para que a leitura do jornal não seja sempre uma rotina”. Assim definiu José Manuel Fernandes um dos objectivos que faz mover toda a equipa do “Público”.
Para o director do jornal, informar é importante, mas também é fundamental permitir que o público encontre algumas “surpresas” nas primeiras páginas do jornal para evitar a tal “rotina” de leitura.
José Manuel Fernandes lembrou-se uma notícia publicada há tempos pelo “Público” acerca da ‘fusão a frio’. Era uma novidade, uma “surpresa” que na altura provocou estranheza entre os leitores. A propósito, o director do “Público” falou da importância de “introduzir surpresas de vez em quando, que podem ser notícias”, e defendeu que tal “é benéfico para os dois lados: nós cumprimos a função de informar com objectividade, e do outro lado há sempre alguém que vê e diz: ‘mas o que é que estes malucos querem?’”

Em entrevista ao “Jornalismo Porto Net”, José Manuel Fernandes garantiu que “não dispomos de todos os meios para divulgação da cultura”. Para o director do “Público”, essa divulgação “depende muito dos espaços generalistas”, e na opinião de José Manuel Fernandes “há poucos espaços” para o fazer.
Questionado acerca da importância que os media portugueses atribuem à área cultural, o director do “Público” referiu que “é uma importância muito variável. Há medias portugueses que não dão nenhuma, há outros que dão uma importância que eu diria ser apenas do lado do espectáculo e mais popular, e há outros que procuram tratar a cultura de uma forma pluridisciplinar. Não há um padrão único. Há boas coisas e há más coisas”

O director do “Público” disse ao “Jornalismo Porto Net” que o protocolo com a Fundação Serralves não é o primeiro que fazem com entidades culturais. Segundo José Manuel Fernandes, o “Público” tem uma “colaboração todos os anos com o Centro Cultural de Belém, para o Festival da Música”, e tem “feito colaborações pontuais com as coisas mais variadas, desde exposições a festivais de rock”. De um modo geral, essas colaborações “passam pela divulgação de catálogos”, garante. Na opinião do director do “Público”, “é possível que esses organismos encontrem num veículo que chega a tanta gente, como um jornal, novas formas de chegar a mais pessoas”.

O debate entre José Manuel Fernandes e João Fernandes contou ainda com a presença de algumas personalidades ligadas a Serralves e ao “Público”, entre as quais esteve António Lobo Xavier.

Ana Correia Costa