São três as novas propostas do Centro Português de Fotografia (CPF): “Buracos negros e outras inconsistências”, “Água” e “150 anos de Fotografia Espanhola”. Entre o passado e o contemporâneo, o CPF continua a lançar pontes para uma melhor compreensão da Fotografia. O objectivo é manter um “equilíbrio entre fotografia histórica e fotografia contemporânea”. As palavras são da directora do CPF, Teresa Siza, em declarações ao JornalismoPortoNet (JPN).

Um “primeiro empurrão”

Teresa Siza fez questão de sublinhar que o programa de exposições do centro procura divulgar nomes novos da fotografia contemporânea, e alertou para a importância de não “funcionar em circuito fechado”, dando assim oportunidade a talentos desconhecidos. “Nós representamos a responsabilidade do Estado perante os produtores jovens. E quando digo produtores jovens, não quero dizer apenas jovens de idade. Em Portugal, durante muito tempo, foi difícil expor e até produzir, e houve autores que trabalharam nos anos 50 e que só ganharam visibilidade nos anos 80. É muito nossa responsabilidade colocar no circuito de visibilidade nomes novos”, explica a directora do CPF. “Porque é necessário dar esse primeiro empurrão. Depois a crítica é que tem de dizer se é bom ou mau”.

Três exposições, três percursos diferentes

O ponto em comum entre as três exposições recém inauguradas é, sobretudo, o suporte fotográfico. De resto, temáticas e abordagens surgem com distinções bem marcadas, como frisou Sónia Silva, uma das responsáveis pela montagem das exposições. “Buracos Negros e outras inconsistências” trazem a público, pela segunda vez no CPF, a fotografia de Edgar Martins. Em “150 anos de Fotografia Espanhola” a imagem fotográfica assume-se como um importante e decisivo registo da história de um país. A colectiva “Água” reúne de novo o grupo da Associação Fotográfica do Porto, marcado por uma estética muito própria.

“Buracos negros e outras inconsistências”

É a única exposição individual deste conjunto. Edgar Martins explicou ao JPN o título atribuído ao conjunto de trabalhos expostos: “nunca pensei em “buracos negros” como uma coisa pejorativa, e acabei por notar que várias pessoas tendem a ver o título como algo catastrófico, ou que faz alusão a coisas negativas”. Edgar Martins disse que “os buracos negros fazem alusão a uma coisa simples, que é aquilo a que os ingleses chamam “gap”, ou seja, a falha. Não será propriamente a falha, mas talvez um buraco no sentido de uma interrupção”, explica. “Ao fim e ao cabo, no contexto deste trabalho o “buraco negro” é uma interrupção a nível da lógica e da compreensão, e a nível dos nossos meios de sensibilização e de comunicação”, esclarece. “Neste caso, o buraco negro faz referência ao facto de termos cada vez menos referências sobre as cidades em que vivemos, sobre a própria linguagem das cidades e do mundo em que vivemos. As “inconsistências” também fazem, de certa forma, referência a isso”, remata.
Edgar Martins não esconde que a influência anglo-saxónica é determinante no seu trabalho. Foi em Londres que este jovem fotógrafo concluiu o curso de Fotografia, e aí desenvolveu outros estudos na mesma área. Tem exposto as suas fotografias um pouco por todo o mundo, desde Macau a Nova Iorque, passando por Hong Kong, Londres e Porto, onde já havia mostrado o seu trabalho em 2001.

“Água”

Esta colectiva junta de novo o grupo da já extinta Associação Fotográfica do Porto (AFP). Entre profissionais e amadores, Eduardo Martinho, Gaspar de Jesus, João Menéres, João Paulo Sotto Mayor, Jorge Viana Basto, Manuel Magalhães, Óscar Saraiva e Ricardo Fonseca estão de novo reunidos no mesmo espaço e em torno de um tema comum: a água. É um reviver do espírito associativo tão característico da AFP. Entre as finalizações da montagem e os últimos preparativos para a inauguração, Sónia Silva explicou ao JPN que a Associação Fotográfica do Porto, criada em 1951, deve ser entendida no contexto salonista. Era um grupo que organizava salões de fotografia e que reunia sobretudo amadores. Com uma estética muito própria, o salonismo “cultivava temas caros ao Estado Novo”. De acordo com Sónia Silva, “os temas populares, como o povo trabalhador”, eram os mais abordados pelos fotógrafos salonistas. “Os pescadores da Nazaré foram muito fotografados”, lembra Sónia Silva. Eram temas que, na sua maior parte, serviam os propósitos propagandistas do regime de Salazar.

“150 anos de fotografia espanhola”

A primeira parte da exposição reporta-se ao desenvolvimento da Industrialização. Aí, é possível observar fotografias tiradas desde o remoto ano de 1839 até 1900. Os anos vão desfilando à medida que o observador percorre a exposição, acabando por chegar à fotografia contemporânea. “É a evolução da fotografia até aos dias de hoje, passando pela História de Espanha”, explica Sónia Silva. “A fotografia funciona como um documento histórico, que acompanha a história de um país e de uma época”, refere. As fotografias estão dispostas numa organização cronológica e, a certa altura, nota-se que “a estética da fotografia vai-se alterando”. Durante os anos 20, verifica-se “uma aproximação à pintura”, em que a fotografia surge “esfumada”. Regressa-se depois à “fotografia directa”, com uma definição mais clara dos contornos. A dada altura, dá-se um “retrocesso”, pois, como explica Sónia Silva, regressa-se a uma “fotografia mais esfumada”. O que fica desta exposição é, essencialmente, a percepção de que a fotografia dos nossos dias “é uma forma de registo mas também um meio de expressão”, enquanto que “antes era uma mera forma de registo de acontecimentos”. Hoje em dia, “há uma mensagem que se pretende transmitir” com a fotografia, há uma “intencionalidade”. Para ver fica a História de Espanha em 150 anos de fotografia.

Estas três mostras podem ser visitadas até ao próximo dia 9 de Maio, no edifício da antiga Cadeia da Relação, no Porto.

Ana Correia Costa (texto e fotos)

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