José Lello espera “que esta investigação contribua para mais transparencia, mais rigor e mais verdade desportiva no futebol, mas sobretudo para que haja a percepção que ela existe”. Em declarações ao JornalismoPortoNet, o ministro do Desporto do governo de Guterres afirma que “há continuamente um discurso recorrente em torno de coisas que ninguém sabe o que são, do sistema e de outras fábulas dessas, e é bom que, de uma vez por todas, se acabe com suspeições”.

José Lello nega ter qualquer percepção sobre as matérias nas quais Valentim Loureiro é acusado: corrupção e cumplicidade com Pinto de Sousa, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol: “nunca vi que ele tivesse esse comportamento e espero bem que prove que não o teve”. Enquanto ministro, José Lello manteve contactos com Valentim Loureiro do ponto de vista institucional e enquanto presidente do Conselho Fiscal do Boavista FC quando o major liderava os destinos do clube axadrezado.

José Lello defende que é preciso dar espaço à “vertente mais exaltante do futebol”, dando voz aos protagonistas do desporto rei. “Até agora criou-se uma cortina de opacidade em que parece que não há protagonistas e não há mérito. É importante que este seja um escrutínio profundo”, explica.

“Há situações de duvidosa legalidade”

Já em 2002, a secção de Gondomar do Partido Socialista entregou ao Procurador Geral da República uma participação onde eram descritas diversas situações que o partido considerava “promíscuas”. Em causa estavam ligações “de duvidosa legalidade” entre a Câmara Municipal, o Gondomar Sport Clube, o Boavista Futebol Clube e os seus dirigentes.

Em declarações ao JornalismoPortoNet, Ricardo Bexiga reitera que “a situação mantêm-se, absolutamente”.

Para o líder socialista, basta ver a composição dos órgãos sociais dos dois clubes. O presidente da Câmara de Gondomar é presidente honorário do Boavista, o vice-presidente da autarquia é presidente do Gondomar Sport Clube (GSC), o anterior vereador e hoje secretário de Estado das Obras Públicas com mandato suspenso (Jorge Costa) foi vice-presidente dos axadrezados enquanto mantinha um pelouro na municipalidade. Também um dos actuais vereadores é o responsável financeiro da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o antigo chefe do gabinete de Valentim Loureiro é hoje secretário-geral da Liga, “depois de ter cedido o seu lugar à sua esposa” e o responsável pelo Desporto na autarquia de Gondomar é treinador de ciclismo no GSC.

Perante este cenário, descrito por Ricardo Bexiga, o socialista considera que “há situações que têm que ser esclarecidas”.

Questionado sobre o possível desvio de verbas públicas para os clubes mencionados, o líder do PS de Gondomar acredita que “isso é o sistema”. Há, assim, apenas uma saída: “temos que saber como ele funciona, responsabilizar as pessoas que participam nele e clarificar algo que neste momento põe em causa até a vida democrática do país”.

Ricardo Bexiga não comenta a possível culpa do major: “Não faço projecção política nem judiciária; sou advogado e entendo que se deve esperar pelas decisões judiciais.

O PSD/Porto escusou-se a comentar a detenção de Valentim Loureiro, autarca do partido: “sobre esse tema, ninguém presta declarações”.

Bruno Amorim e Manuel Jorge Bento