Os cipriotas votaram, no passado dia 24, a proposta de reunificação da ilha apresentada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e decidiram que nada se altera. A parte turca aprovou a medida com 65% de votos, enquanto que os cipriotas gregos se decidiram pelo “não” (76%). Para que a reunificação fosse possível era necessário o voto positivo de ambas as partes. Como tal não aconteceu, apenas a parte grega vai entrar oficialmente para a UE no próximo dia 1 de Maio.

O resultado deitou por terra o plano de Kofi Annan, secretário-geral da ONU, para a reunificação do Chipre antes da adesão à UE. No entanto, segundo a agência turca “Turkish Daily News“, Kofi Annan espera que os cipriotas se apercebam que a reunificação é a melhor solução e que desenvolvam esforços para chegar a acordo.

Stelios Georgiades, secretário da embaixada do Chipre em Portugal, disse ao JornalismoPortoNet que os cidadãos gregos rejeitaram o plano porque este era discriminatório. O cipriota acredita que “as pessoas do Chipre querem paz […] e querem viver com os cipriotas turcos”. “Eles rejeitaram este plano particular porque o achavam inseguro, mas não rejeitam a reunificação”, adianta Stelios Georgiades.

Depois do voto negativo, o Comissário para o Alargamento da UE, Guenter Verheugen, afirmou que os cipriotas gregos vão entrar para a UE “debaixo de uma sombra”. No entanto, Stelios Georgiades acredita que isso só acontece se os europeus não fizerem um esforço “para tentar entender as realidades e dificuldades que os cipriotas gregos estão a enfrentar e que os levaram a votar não”.

O plano das Nações Unidas

A proposta da ONU para a reunificação do Chipre foi apresentada pela primeira vez a 11 de Novembro de 2002. Seguiram-se várias revisões até ficar pronta a versão final que foi apresentada aos representantes das duas partes da ilha a 31 de Março de 2004.

As reacções foram diversas. Enquanto que a Turquia e os líderes cipriotas turcos consideraram a proposta “equilibrada”, a Grécia e os cipriotas gregos mostraram-se apreensivos.

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Segundo Stelios Georgiades, o plano punha em causa a segurança, porque “dava direito à Turquia de manter o exército no Chipre, mesmo depois da adesão à UE” e previa “ajustes injustos ao governo e à percentagem de cidadãos turcos e gregos no governo”. A economia e a livre circulação, segundo o cipriota, também saíam afectadas uma vez que “as pessoas gregas do Chipre [parte sul] iam ter de pagar o desenvolvimento do Norte da ilha” e os cipriotas gregos não iam ter direito a comprar casa na parte turca mesmo depois da adesão a 1 de Maio. Para Stelios Georgiades isto era um “contra-senso”, na medida em que depois da adesão “pessoas de Portugal iam poder viajar e comprar casa no norte da ilha, mas isso já não seria possível para um cipriota grego”.

Cipriotas estão entusiasmados com adesão

A entrada para a União Europeia “é algo que as pessoas do Chipre já esperavam à muito tempo”, afirma Stelios Georgiades. Para este cipriota, “os cidadãos estão muito entusiasmados acerca da UE” e sentem “que se estão a tornar membros de uma família à qual sempre sentiram pertencer”.

Segundo Stelios Georgiades, a entrada do país na UE vai trazer benefícios para ambas as partes. O Chipre “vai estabilizar em termos de segurança” e a União Europeia passa a ter uma “ponte para o Este Mediterrâneo e Meio-Oriente” que lhe vai permitir “expandir os seus negócios e relações com estas regiões”. Para além disso, a adesão vai permitir um maior fluxo de pessoas entre Chipre e Europa, o que possibilita a abertura da sociedade cipriota ao espaço europeu e facilita a troca de ideias e culturas”.

Stelios Georgiades mostra-se confiante no futuro do país enquanto membro da UE
e afirma que o Chipre está preparado para a adesão, uma vez que reúne todos os requisitos. O país “tem uma boa economia, baixo nível de desemprego, respeita os direitos humanos a nível pessoal e adapta-se bem à mentalidade de vida da UE”, adianta o cipriota.

A divisão da Ilha

O Chipre foi ao longo da história ocupado por algumas potências coloniais devido à sua localização estratégica. Em 1878 foi ocupado pelo Reino Unido que derrotou o Império Otomano. A 1960, a República do Chipre conseguiu a independência e formou uma estrutura bilateral em que os cipriotas, gregos e turcos, co-existiam pacificamente.

Mas, três anos depois, começaram as crises políticas e problemas internos que deram origem à divisão da ilha, em 1974. Nesse ano as tropas turcas invadiram o país para lutar contra os militantes gregos que queriam a união com a Grécia. O acontecimento desencadeou fortes ondas de refugiados e de movimentações entre a parte sul (grega) e norte (turca) da ilha.

Desde então, as Nações Unidas têm desenvolvido vários esforços para chegar a acordo e reunir o país. No entanto, nenhum teve o resultado esperado. A capital da República do Chipre, Nicosia, mantém um muro semelhante ao que havia em Berlim e a parte norte não é reconhecida por nenhum país, com excepção da Turquia.

No passado dia 24 os cipriotas puderam votar uma nova proposta de reunificação que, mais uma vez, não deu frutos. O JornalismoPortoNet falou com Stelios Georgiades, um cipriota, que acredita que isto não vai durar para sempre, até porque “é muito difícil viver num país dividido e por isso o governo vai tentar a reunificação, mas com um novo plano que não seja proposto pelas Nações Unidas”.

Andreia Parente