O ingresso da Turquia na UE está longe de ser consensual entre os Quinze, que passarão a 1 de Maio para 25 Estados-membros.
São muitas as vozes que consideram que a Turquia não tem um lugar na família europeia. Valéry Giscard d’Estaing, ex-presidente francês e presidente da Convenção Sob o Futuro da Europa é o principal opositor da adesão de Ancara, afirmando que esta não cumpre os requisitos de adesão e considera mesmo que significaria o fim da União Europeia.

Existem três critérios que um país tem de satisfazer para se tornar num membro da União Europeia. Primeiro tem de ser um país geograficamente europeu e a Turquia tem cerca de 4% do seu território no continente europeu.
A segunda condição passa pelos países candidatos terem uma economia de mercado e serem países capitalistas. A Turquia embora tenha alguns problemas nesta matéria está a adoptar uma economia de mercado semelhante à europeia.
O último requisito é que seja um país liberal e que respeite os direitos humanos e neste ponto a Turquia tem sérios problemas, sobretudo em relação aos Curdos e aos prisioneiros de guerra.

Para os mais cépticos, as referências políticas, religiosas e culturais são muito diferentes das da UE, razões mais do que suficientes para manter a Turquia longe da União.
No entanto a Turquia tem levado a cabo uma série de reformas que são uma tentativa de europeizar a Turquia. Não se pode negar que Ancara tenha dado um passo de gigante em direcção à União Europeia e que tenha evoluído incrivelmente nos últimos anos mais do que nas últimas cinco décadas. Adoptou uma república laica, inaugurou uma série de reformas e está rapidamente a transformar-se no país islâmico mais ocidental.

Milan Rados, professor de ciência política da Universidade do Porto, considera que neste momento a Turquia “não tem muito a ver com a Europa”. Para este especialista em relações internacionais, a Turquia esteve presente muito tempo na história da Europa, mas não deixa de ser muito diferente desta, quer em termos de religião, cultura ou tradição. “Olhando para o futuro, é melhor ter uma Turquia mais semelhante à Europa do que uma Turquia mais fundamentalista”, considera Milan Rados.

Turquia: o Calcanhar de Aquiles da União Europeia

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A questão turca está longe de ser pacífica. Com mais de 65 milhões de habitantes, a Turquia tornar-se-á no país mais populoso da União, com tudo o que isso implica em termos de representatividade nas instâncias políticas de Bruxelas. Será também o primeiro país muçulmano da UE, motivos demasiadamente fortes para imporem um aceso debate entre aqueles que, estando a favor ou contra, olham para a questão turca como a expressão de um choque civilizacional, visto que os sentimentos anti-islâmicos colhem cada vez mais frutos nas sociedades europeias.

De acordo com Elísio Guerreiro do Estanque, sociólogo e professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, é desejável que a Turquia ingresse na União Europeia: “A Europa tem de participar e apoiar activamente os estados que, apesar da cultura oficial, são laicos e que se podem transformar em sólidos estados de direito”.
Elísio do Estanque afirma que Ancara está bastante ocidentalizada e sublinha que quanto mais próxima a Turquia estiver da Europa, melhor serão as “condições de canalizar as regiões e países de influência islâmica para os valores democráticos europeus”.

João Sobral, especialista em ciência política e relações internacionais e membro da direcção do Centro de Investigação e Análise em Relações Internacionais (CIARI) acredita que “a entrada da Turquia na UE é inevitável” e que a grande ameaça do terrorismo internacional pode acelerar a sua entrada.
“Penso que a UE não vai perder a oportunidade de dar um sinal (ao islamismo radical, mas também às elites moderadas dentro do mundo islâmico) de que apoia os países muçulmanos moderados e democráticos”, afirma João Sobral.

Segundo este especialista, esta questão da Turquia é muito delicada e a sua entrada num futuro próximo teria “um impacto demasiado grande, porventura negativo, na estrutura da UE”. João Sobral acredita que a Turquia vai ingressar na UE, mas “muito depois da Bulgária e Roménia”.

No entanto, não se pode ficar indiferente face às ambiguidades com que a Europa política-institucional vem abordando esta questão tornada desde cedo o Calcanhar de Aquiles da União Europeia.

Carla Sousa