Das 5023 pessoas que se submeteram ao primeiro rastreio nacional de hipertensão arterial, 64% não sabe que é hipertensa. A hipertensão é mais comum nos homens que nas mulheres, porque são “mais vigiadas” que o sexo masculino. Há uma maior prevalência da doença no Alentejo do que no Norte do país. A taxa de controlo de hipertensão na população é de 11,1%, superior à registada em muitos países da União Europeia, como por exemplo Suécia, Itália ou Espanha.

Se Portugal assume uma posição favorável em relação ao controlo de hipertensão, o mesmo não se pode dizer em relação à taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral (vulgo trombose), “que tem alguma relação com a hipertensão arterial”, esclarece Mário Espiga Macedo, coordenador do «Estudo da Prevalência, Tratamento e Controle da Hipertensão Arterial em Portugal».

Portugal é o pais europeu com maior taxa de mortalidade em acidentes vasculares cerebrais. Este resultado, aliado aos dados optimistas do estudo em relação à hipertensão arterial, só vem aumentar as preocupações de Espiga Macedo: “se não temos tanta hipertensão como pensávamos, então temos de arranjar outras explicações para a taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral”, diz o coordenador do estudo. Por tudo isto, o estudo revela-se de extrema importância para a elaboração de uma política de prevenção e tratamento de hipertensão adequada à realidade nacional.

Este estudo custou 200 mil euros e contou com o apoio financeiro do programa comunitário «Saúde XXI» e com o apoio do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) e a Sociedade Portuguesa de Hipertensão.

O estudo baseou-se numa amostra de 5023 indivíduos, de ambos os sexos e com idades compreendidas entre os 18 e os 90 anos, distribuídos pelas cinco regiões do país: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve. Por problemas de “orçamento”, ficaram de fora as regiões da Madeira e dos Açores.

O estudo foi realizado “in loco”, isto é, várias equipas de técnicos e paramédicos durante um ano “deslocaram-se à casa das pessoas” para fazerem o rastreio. “Apesar de tudo há uma carência de intervenção médica na população e as pessoas mostraram-se muito receptivas”, disse Espiga Macedo ao JPN. “As pessoas têm cada vez mais consciência da doença, só que não têm níveis de consciência significativos”, refere o coordenador.

Amanhã, quinta-feira, às 17h30, o «Estudo da Prevalência, Tratamento e Controle da Hipertensão Arterial em Portugal» vai ser apresentado na Fundação António Cupertino de Miranda, na Avenida da Boavista.

O que é a HTA

A hipertensão arterial afecta dois em cada cinco portugueses em idade adulta e só uma em cada 10 pessoas com a doença está a ser tratadas correctamente. Estes dados revelam-se preocupantes.

A hipertensão arterial é a elevação da pressão arterial para números acima dos valores considerados normais (140/90mHg). O coração é obrigado a trabalhar mais para bombear o sangue através das artérias para os demais órgãos do corpo, levando o coração a hipertrofiar-se.

Os principais riscos desta situação são “a médio prazo, ter um acidente cerebral, um enfarte no miocárdio, ter uma insuficiência renal ou lesão renal”, alerta Espiga Macedo.

O também docente na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto refere que a prevenção da doença passa pela “luta contra a obesidade”, que é uma das principais causas de hipertensão, pela “diminuição da ingestão de sal e álcool e pelo exercício físico”, esclarece o docente Mário Espiga Macedo.

Vânia Cardoso