O programa «60 Minutes II», da CBS, exibiu, na semana passada, imagens chocantes de presos iraquianos a serem maltratados por soldados americanos. Pelo menos 17 militares foram afastados do serviço devido às acusações que lhes são imputadas.
Ao que tudo indica, os acontecimentos remontam ao último trimestre do ano passado e terão acontecido na cadeia de Abu Ghraib, perto de Bagdad. As fotografias terão sido tiradas pelos próprios abusadores, mas acabaram por chegar às mãos de um soldado que as entregou aos seus superiores e… à CBS.
Imagens são “chocantes”
A verdadeira extensão dos abusos cometidos ainda não está determinada ao certo. No entanto, as imagens divulgadas mostram soldados (homens e mulheres) a simular a execução de prisioneiros e há ainda fotografias tiradas por esses militares a presos nus que foram obrigados a encenar actos sexuais.
A um outro detido, que alegadamente estaria encapuzado e com as mãos ligadas a fios, foi-lhe dito pelos soldados que seria electrocutado caso caísse do cimo de uma caixa de cartão.
“Não gostei nada do que vi”
As reacções não se fizeram esperar, e foi assim que o presidente dos Estados Unidos, George Bush, demonstrou o seu repúdio pelos actos perpetrados por soldados norte-americanos contra detidos iraquianos. Bush acrescentou ainda que esse “tipo de actuação não reflecte a natureza do povo americano. Não é assim que fazemos as coisas na América”, afirmou.
A mundo árabe também já condenou os actos de violência contra os detidos iraquianos. Citada pela agência Reuters, a Liga Árabe declarou que “actos desses seriam de esperar de Saddam Hussein e não daqueles que diziam trazer a liberdade”.
Maus tratos não são de agora
Os abusos já são conhecidos pelo menos desde Março. Nessa altura, seis militares da 800ª Brigada da Polícia Militar norte-americana foram suspensos por terem cometido abusos na prisão de Abu Ghraib.
A informação é avançada pela agência Reuters, que refere ainda que as acusações que recaíram sobre os seis soldados incluem sobretudo espancamentos, práticas de actos indecentes contra terceiros e maus tratos. Estas incriminações são relativas a abusos ocorridos em Novembro e Dezembro de 2003 contra cerca de 20 detidos iraquianos em Abu Ghraib, refere a Reuters.
Soldados britânicos também envolvidos
No sábado, a Reuters noticiou que o jornal «Daily Mirror» tinha publicado cinco fotografias a preto e branco que mostravam soldados britânicos a pontapear, bater e urinar sobre um detido iraquiano encapuzado em Bassorá, no sul do Iraque. De acordo com a Reuters, as fotografias foram publicadas poucos dias depois de a CBS ter divulgado imagens, já classificadas como “chocantes”, em que soldados americanos cometem actos de violência contra prisioneiros iraquianos.
De acordo com informação avançada pela Reuters, o «Daily Mirror» referiu que as fotografias foram obtidas através de dois soldados desconhecidos que adiantaram que o iraquiano que nas imagens é vítima de abusos terá sido detido por suspeita de roubo.
Abusos continuam na prisão de Abu Ghraib
Situada nos arredores da capital Bagdad, Abu Ghraib conta já com um longo historial de situações de abusos e torturas. Se as paredes desta prisão pudessem falar, teriam certamente histórias macabras para contar destes últimos 30 anos.
Durante a ditadura de Saddam Hussein, Abu Ghraib foi palco de torturas e execuções sumárias contra opositores do regime. A prisão está agora a ser utilizada pelas forças americanas para manter em cativeiro centenas de iraquianos suspeitos de acções rebeldes, mas a prática de torturas parece não querer abandonar aquele que é o maior centro de detenção do Iraque.
Foto: Reuters
