Entre os excessos dos comícios e os discursos com referências ao economista Keynes, os 25 anos de governação de Alberto João Jardim foram marcados por uma linguagem agressiva que, por várias vezes, “incendiou” a cena política portuguesa. Impulsivo e pouco dado a gerir silêncios, o presidente do Governo causou escândalo, ganhou amigos e inimigos, mas manteve o estilo.

À frente da Presidência do Governo, o sucessor de Ornelas Camacho não optou por um tom institucional, preferindo a linguagem de “guerrilha” destinada aos adversários políticos, externos e internos. A agressividade é quase sempre dirigida aos “comunistas” regionais, aos “senhores de Lisboa” e à comunicação social.

O discurso, apesar de nem sempre ser o mais correcto, cativou a população. Iniciou a sua governação com um objectivo: reclamar em Lisboa os direitos esquecidos durante anos. Podia não ser elegante, mas demonstrou ser eficaz.

Além disso, Jardim falava ao coração de quem o elegia. Levava luz, água e estradas, coisas nunca imaginadas numa Região que vivera como colónia durante séculos. Mas não era apenas o político competente. Ouvia o que lhe diziam, cantava ao despique, bebia vinho seco e comia espetada. Fazia rir o povo. Os resultados eleitorais foram-se sucedendo em maiorias absolutas.

Os anos 90 mostraram-se pouco simpáticos para a imagem de João Jardim. Com o aparecimento de novos jornais e televisões privadas, a Madeira depressa se transformou num terreno procurado para notícias, sobretudo depois de, na Assembleia da República, Jaime Gama apelidar o líder madeirense de Bokassa (um famoso ditador africano) e de denunciar a existência de défice democrático na Região, à semelhança de Mário Soares.
Os comentários pouco abonatórios para com os adversários e o discurso autonomista começaram a encher os telejornais e a imprensa. As deselegâncias (que atingiram, de forma indiscriminada, vários sectores da sociedade portuguesa, de São Bento a Belém) também deixaram de ter um público regional e começaram a ser vistas e ouvidas em Lisboa. A festa popular do PSD no Chão da Lagoa passou a ser passagem obrigatória para os jornalistas e as declarações de Jardim sobre o País “incendiaram”, rapidamente, a cena política. Protagonismo não faltou, mas nem sempre pelas razões mais felizes.

Aos profissionais da comunicação social, Jardim optou sempre por considerá-los como conhecidos comunistas ou indivíduos ligados à esquerda. A agressividade foi quase sempre utilizada para “despachar” perguntas incómodas. Exemplo disso foi a explicação que deu sobre a compra de Mercedes topo de gama para a Presidência do Governo: «Isto não é a casa da Amelinha!».

Realizado em Janeiro/2004

Milene Câmara