Aquando da descoberta oficial das gravuras, surgiu o problema da opção pela construção da barragem – que já estava a dar os primeiros passos – ou pela preservação do património histórico.
As gravuras venceram esta batalha. Mas hoje, a população fozcoense reclama por projectos que ainda não se cumpriram. O Museu do Côa é uma grande ambição…

A aposta nas gravuras criou expectativas na população que, segundo o Presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa, Sotero Ribeiro, hoje ainda não estão realizadas: «Os fozcoenses estavam a pensar que isto era o “el dorado”. Puseram a “fasquia” muito alta. Puseram eles e as pessoas de fora, nomeadamente, o governo. O que obrigou a que as pessoas pensassem que isto ía trazer um grande desenvolvimento a Foz Côa… Trouxe, mas não aquilo que as pessoas estavam a pensar».

O Presidente de Câmara tece críticas ao Governo Central, dizendo que «havia muita coisa que devia ter mudado e não mudou». E explica que se refere às acessibilidades; e às promessas de incentivos aos privados – que foram retirados dois anos depois de acordados, sem nunca terem sido concedidos.

Para Sotero Ribeiro, também há culpas a apontar à gerência do Parque Arqueológico do Vale do Côa, «Eu penso que os intervenientes que estão no Parque ainda são os mesmos. Acho que deveriam mudar, para que se possa fazer outra gestão do Parque e dar-lhe um outro rumo.». O Presidente da Câmara explica que, na sua opinião, deveria mudar a «filosofia das visitas (…). Um dos sítios arqueológicos devia ser aberto a mais público. Isto é, vamos supor que vem um autocarro com muitas pessoas… Porque não visitar todos um dos sítios, embora sempre com visitas guiadas…»

Marta Mendes, arqueóloga do Parque, responde: «Depois de estudos de conservação, chegou-se a uma política de conservação… Podíamos fazer como em Espanha, por exemplo, vêm camionetas inteiras e depois o cenário é de destruição. Portanto, aposta-se na preservação; num outro tipo de visitas, com uma explicação por parte do guia que acompanha a visita… Não há capacidade para mais…”

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O projecto do Museu, com data de inauguração marcada para o final de 2007 está ainda a dar os primeiros passos. O Presidente da Câmara diz que tem «a noção de que não é fácil. Mas vamos ver se a burocracia neste país nos permite concluir a obra nessa data.». Para já, as candidaturas ao concurso estão abertas até 17 de Março.

Vozes da terra:

Apoiava as gravuras; é algo único no mundo. Mas não sei se foi melhor ou pior. Mais gente vem às gravuras do que à Barragem do Pocinho. Mas há falta de actividades; falta de publicidade sobre Foz Côa.
Maria Fernanda Filipe, proprietária de uma albergaria

Eu defendia as duas coisas: a barragem trazia pessoas; as gravuras podiam trazer mas foi só no início. Não fazem nada para que as gravuras continuem a ter sucesso.
Eugénia Gastalho, comerciante

A gente queria as duas coisas… Foz Côa não ficou beneficiada com as gravuras. Não houve o desenvolvimento que se esperava; a Câmara não tem verbas.
Maria da Conceição Afonso

Letícia Amorim