Há quem esteja preocupado com o crescente número de mulheres que entram nos cursos de medicina e defenda a criação de quotas para homens, numa tentativa de travar a presença maioritária das universitárias no sector.

Porque o assunto é polémico e a ideia na prática será uma forma de discriminar as pessoas, os que são a favor de repôr o equilíbrio entre mulheres e homens na profissão mostram alguma reserva em falar sobre o assunto. Ainda assim, António Sousa Pereira disse ao jornal Público que se não for alterado o modelo de ingresso nos cursos de Medicina, “terão de ser criadas quotas para os homens nestas faculdades”.

José Teixeira Amarante, director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) partilha de certa forma esta ideia. “Qualquer dia são precisas quotas para homens. Há mais mulheres que homens aqui e provavelmente vai haver mais”, diz. Mas José Amarante entende que as quotas não devem existir com o intuito de travar o acesso de mais mulheres à profissão até porque, diz, “elas são mais maduras e empenhadas”. O cirurgião plástico acredita que será por isso que entram mais raparigas que rapazes no curso de medicina.

Na FMUP, 60 por cento dos estudantes são mulheres. José Amarante confessou ao JornalismoPortoNet (JPN) que “gostaria que fosse equilibrada a presença de homens e mulheres mas sem que isso seja forçado”.

O director defende que o problema de supremacia do sexo feminino no sector não é afinal um problema e o que devia ser repensado é o modelo genérico de entrada em Medicina. “A fórmula hoje utilizada permite alguma transparência mas não é a melhor. Não é uma média que diz se um aluno vai ser ou não bom médico”. José Amarante defende um modelo misto em que os alunos fossem também entrevistados e analisados tendo em conta critérios psicológicos, de sociabilidade e relacionamento pessoal.

Uma questão de empenhamento

Àqueles que argumentam que a licença por maternidade é um problema, José Amarante diz que “isso é bla bla” e que o exercício desta profissão, como acontece noutras áreas, é uma questão de empenhamento. O director da FMUP diz que na profissão já viu de tudo: “Tive uma colega durante o internato que quase a obrigamos a sentar. Fez e faz tudo. E tenho homens que chegam tarde porque tem que ir levar o menino ao colégio. É uma questão de empenhamento”.

Miguel Azevedo, estudante de Medicina e vice-presidente da Associação de Estudantes da FMUP, disse ao JPN que a presença crescente das mulheres no curso “não é um problema” nem está a criar qualquer desequilíbrio. O dirigente estudantil acha, por exemplo, “mais grave que as mulheres não estejam tão representadas noutros sectores como as forças armadas”. No exercício da profissão, Miguel Azevedo acredita que homens e mulheres estão em pé de igualdade.

A preocupação dos que defendem as quotas para homens no acesso a Medicina é que o aumento de mulheres nas turmas de medicina se traduza depois no aumento do número de mulheres na profissão, que actualmente já é elevado. O que se verifica, no entanto, é um equilíbrio que antes não existia. De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatistica, em 2001, as mulheres representavam 45 por cento dos médicos. Em 1969 eram apenas 15 por cento. A evolução foi mais rápida sobretudo a partir da década de 90.

Ana Isabel Pereira

Foto: FMUP