Entrevista com a professora Maria Elisa Cerveira, responsável pelo programa Erasmus no departamento de Ciências e Técnicas do Património da Faculdade de Letras do Porto.

Considera o Programa Erasmus uma vertente alternativa do actual sistema de Ensino Superior, ou acha que é apenas mais uma das componentes que o constituem?

Considero que é mais uma das componentes que o constituem. É uma vantagem que se dá aos alunos, para alargarem horizontes e para terem novos contactos com outras pessoas, outros profissionais e outras formas de abordar as temáticas, e para terem um contacto com novas temáticas relacionadas.

Quais são, na sua opinião, as principais vantagens do Programa Erasmus?

À partida são duas. Por um lado, os alunos têm a oportunidade de conhecer outros ambientes estudantis, outros métodos e outros docentes, podendo, inclusivamente, escolher universidades que considerem mais conceituadas e docentes mais considerados. Têm a oportunidade de fazer estas escolhas, coisa que não poderiam fazer se não participassem no programa.
Por outro lado, os estudantes têm a possibilidade de aceder a disciplinas que não funcionam na sua faculdade, ou cursos que cá não existem, conseguindo dessa forma complementar o seu currículo.

Acha que o actual sistema de aplicação do programa Erasmus, muito baseado nas equivalências entre as diferentes disciplinas, é o mais indicado para garantir o sucesso da experiência dos alunos participantes?

Essa condição permite aos alunos não perderem anos lectivos na sua faculdade. Julgo que a sua importância é secundária e os alunos dão demasiada importância à questão das equivalências, preocupando-se em frequentar disciplinas que possuem os mesmos conteúdos que as do seu curso de origem, acabando por mudar apenas o espaço físico em que as frequentam. A vantagem que o programa oferece é mesmo a da possibilidade de frequentar disciplinas que não existem cá, tendo contacto com outras temáticas, e áreas que lhes proporcionarão uma especialização que cá não possuem. Os alunos têm acesso a oportunidades que cá não existem e procuram apenas as disciplinas que lhes dão correspondência com as da sua universidade.
Acaba por ser um pouco redutor quando a preocupação primeira é não perder o ano, já que, mesmo perdendo um ano, esse torna-se numa mais-valia fantástica, pois o aluno fica com os certificados de frequência de disciplinas em universidades estrangeiras que são adicionadas ao seu currículo.

Que tipo de alterações propunha para a melhoria do programa Erasmus?

Mais informação no aspecto das vantagens do programa. Outra questão que se levanta, sobretudo aqui na Europa, é a questão da língua, já que uma grande parte das universidades não oferece os seus conteúdos numa língua acessível a todos, actualmente o inglês, o que acaba por ser um entrave para a escolha de alguns alunos em relação ao país para onde pretendem ir. As universidades aderentes ao programa deveriam possuir conteúdos específicos em inglês para os alunos de Erasmus. Este é um ponto onde deveria haver algum investimento, mas, nos países nórdicos, já existe um leque razoável de disciplinas ministradas em inglês.
Cá, e em quase toda a Europa, ainda existe uma barreira linguística muito forte e, se se pretende que as pessoas conheçam outros cursos e se integrem noutros ambientes e noutros países, a primeira barreira a quebrar deveria ser a linguística.

Acha que a adaptação de um estudante estrangeiro a Portugal é facilitada pelos serviços de apoio ao programa Erasmus existentes?

Aqui na Universidade do Porto julgo que os alunos são bastante bem recebidos. São acompanhados e o gabinete de apoio está aberto durante as horas de expediente, todos os dias, não havendo por isso um horário reduzido, sendo que, nesse aspecto, possuem bastante apoio. Podem sentir algumas dificuldades em matéria de burocracia, mas essas também nós as sentimos!
Comparativamente a outros países mediterrânicos, já que os países nórdicos possuem uma organização quase perfeita, os nossos serviços de apoio ao estudante de Erasmus funcionam muitíssimo melhor.

Quais as principais recomendações que faria a um estudante estrangeiro que viesse estudar para Portugal e a um estudante português que fosse para o estrangeiro?

As recomendações estão relacionadas com a questão da língua. Os alunos devem preparar a sua ida com antecedência, e, se viajarem para um país em que não dominem a língua, devem preparar-se nos anos anteriores, pois os cursos intensivos servirão apenas para remediar os problemas do quotidiano, e o aluno não conseguirá acompanhar as aulas ministradas na língua desse país. Se dominar melhor a língua, poderá também alcançar a terminologia técnica das disciplinas a que assiste.
Em segundo lugar, deve preocupar-se com a integração. Deve tentar integrar-se no grupo de colegas o melhor possível, evitando um relacionamento apenas com os outros estudantes estrangeiros, facto que acontece frequentemente, mas conhecendo colegas naturais do país onde se encontram.

Se, nos seus tempos de estudante, tivesse tido a oportunidade de participar no programa Erasmus, tê-lo-ia feito?

Sem dúvida nenhuma. Ia de certeza para qualquer lado, aprender coisas que cá não haviam, e perdia alegremente um ano a fazer disciplinas de que gosto e que cá, pura e simplesmente, não existiam. Iria alargar horizontes e ficaria com uma experiência completamente diferente nessas áreas. Escolheria uma universidade com bom funcionamento e boas metodologias, mas por certo iria.
Só o ter contacto com outras metodologias, o aprender de forma diferente, já alarga imenso os horizontes de cada pessoa. Recomendo a todos a participação no programa Erasmus.

Ricardo Bastos