Os estudantes não esquecem e não perdoam. Continuam revoltados com o aumento brusco da propina e garantem que a luta não terminou.

Os estudantes continuam insatisfeitos e as manifestações prometem não parar. As propinas elevadas, a falta de condições de trabalho das universidades e as novas reformas do ensino superior são algumas das questões que os estudantes colocam ao Governo.

Roque Teixeira, presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), garante que a luta dos estudantes vai continuar e que assumirá uma postura “sempre pensada”. “Não vamos criticar por criticar e iremos defender as nossas posições com ideias, afirma, em entrevista ao JPN.

As queixas dos estudantes são muitas, mas debate-se sobretudo a má gestão das propinas. Para onde vai afinal todo o dinheiro que tiram do bolso dos estudantes? O princípio da propina é que o dinheiro será utilizado para a melhoria da qualidade de ensino, mas Roque Teixeira afirma que essa noção “não é mais do que uma falsidade” e que o Governo se desresponsabiliza cada vez mais. Acusa-o de não financiar como devia aquilo que é o motor de desenvolvimento da sociedade, a educação.

“A propina é neste momento um financiamento concreto das Universidades. A diminuição dos Orçamentos das Universidades assim o obriga. Não podemos ser a favor desta continuada desresponsabilização por parte da Tutela”, sublinha. Roque Teixeira admite que, tendo em conta o contexto económico do país, seria utópico pensar que o Ensino Superior poderia ser 100% gratuito, mas diz acreditar “que o Ensino Superior tem, obrigatoriamente, de ‘sofrer’ um investimento claro por parte da Tutela, e quando isso acontecer, poderá facilmente baixar-se o valor das propinas”.

Mas José Ferreira Gomes, vice-reitor da Universidade do Porto, não vê razões para a questão das propinas se tornar uma discussão nacional. E, principalmente, quando as manifestações dos estudantes são pagas com dinheiros públicos. “A contestação estudantil em Portugal é ritualizada e profissionalizada”, diz. “Os estudantes tem um financiamento público e é esse financiamento que paga as greves. Os estudantes que foram a Lisboa não foram propriamente fazer um sacrifício. É uma situação perfeitamente ritualizada, de promoção de líderes, bem e mal, que nunca fizeram contas, que nunca apresentaram contas”, salienta.

Na opinião de Ferreira Gomes, os estudantes dramatizam o cenário quando, na verdade, o Ensino Superior em Portugal é “muito razoável”, se comparamos com os outros países europeus. No caso português, o financiamento é assegurado por uma participação privada e uma participação pública estipulada no orçamento para o Ensino Superior, mas a defesa do Governo é que o sistema é necessário, tendo em conta o contexto económico do país. “A razão base para a existência da propina em Portugal são as dificuldades orçamentais, e daí a necessidade desta fonte de co-financiamento para o Ensino Superior”, justifica José Ferreira Gomes.

Apesar disso, o vice-reitor da UP admite que muito poderia ser feito para melhorar a situação do Ensino Superior em Portugal. As propinas são já uma velha questão e o vice-reitor gostava de ver a situação mudar. “As propinas poderiam ser mais bem geridas pelas instituições. E deveriam ser melhor geridas pelo Governo, na sua distribuição nacional, para permitir satisfazer as necessidades diferenciadas dos estudantes”, refere.

Cristina Freitas