Como vê a polémica entre as Ordens profissionais e os defensores da aplicação do tratado? Qual dos dois lados tem os argumentos mais fortes?

Não creio que isto possa ser entendido numa lógica de oposição entre duas visões. O que está a caminho é uma reforma da formação superior elaborada sem qualquer tipo de consulta (universidades, centros de investigação, ordens, sindicatos) e obedecendo a uma única ideia de força – a redução dos custos do Estado. E isso é inédito em democracia. E é muito grave.

Um ensino universitário comum ao espaço europeu é um passo importante para a consolidação do “projecto europeu”?

É uma progressão natural de uma aproximação já em curso – e com muito sucesso (nomeadamente na Universidade do Minho) – ao abrigo, por exemplo, de programas como o Erasmus/Sócrates.

“Nestes moldes, o aluno português vai sair a perder”

O aluno universitário português tem mais a ganhar do que a perder com a aplicação do protocolo no sistema de ensino nacional?

Nas presentas condições, perde financeiramente e perde na qualidade da sua formação.

Bolonha não é só a reorganização dos cursos universitários. É também mobilidade e ao mesmo tempo significa um novo dinamismo no ensino superior a nível europeu. Portugal está preparado para o que aí vem?

Não. Portugal – pelos planos da demissionária ministra – pretende gastar menos numa formação menos abrangente. As universidades, na ideia de Maria da Graça Carvalho, deverão formar mais técnicos do que criadores (serão uma espécie de entidade híbrida, a meio caminho entre um centro de formação e um instituto politécnico). Neste particular, as medidas preconizadas são praticamente o oposto do que foi feito nas últimas décadas do século passado na Irlanda.

Miguel Lourenço Pereira