“Exige-se aos homens o mesmo que se exige às mulheres?”. A pergunta, levantada pela jornalista Diana Andringa abriu o debate, realizado ontem na Cooperativa Árvore, no Porto, a propósito das comemorações do Dia Internacional da Mulher. A apologia da paridade e a necessidade urgente de uma participação igualitária na vida social não são, segundo a jornalista, discursos repetitivos.

A necessidade de celebração deste dia justifica-se pelos inúmeros atropelos que ainda se verificam no quotidiano feminino. “Ainda vivemos no reino do macho lusitano”, acrescenta a jornalista que repudia “a cultura da cozinha e da costura”. Constituindo mais de metade da população portuguesa, “a mulher tem o direito de ser representada nos mais variados sectores sociais.” “Só com uma representatividade justa e assegurada se pode garantir uma democracia plena, essencial para o progresso e o bem comum”, disse.

Palmira Peixoto, sindicalista da CGTP, quis também deixar um alerta. Palmira Peixoto chamou à atenção para os salários das mulheres, que para trabalho igual recebem 30% menos que os homens. A questão não se resume ao salário, mas também à igualdade de oportunidades e ao espaço reservado às mulheres no mercado de trabalho.

O médico João Semedo apelou à discriminação positiva em favor das mulheres: “Não quer dizer que estas tenham ou não mais capacidade que os homens, mas deve haver uma maior igualdade de oportunidades entre homens e mulheres”. As quotas de representação política têm, segundo este médico, um papel fundamental na luta pela paridade, constituindo uma garantia para o bom funcionamento da vida política.

A questão do aborto também mereceu destaque nesta conferência. A necessidade prioritária de “acabar com a vergonha de impedir as mulheres de tomar uma decisão que só a elas lhe compete” foi tónica acentuada no discurso de Diana Andringa. Em entrevista ao JPN, a jornalista confessa o seu desejo de ver esta questão resolvida em breve. “É uma vergonha sem nome a perseguição das mulheres que cometeram interrupção voluntária de gravidez”, acusa.

O encontro ficou mais rico com um recital de poesias da autoria de Sophia Mello Breyner, Natália Correia e Florbela Espanca. Destaque também para a exposição de pintura e escultura, tudo assinado no feminino.

Agostinha Garcês de Almeida