Os atentados de 11 de Março marcaram a Espanha, mas também todos aqueles que de alguma maneira estiveram ligados aos acontecimentos. Ou porque perderam amigos ou familiares, ou porque presenciaram as explosões ou simplesmente porque estavam na cidade em trabalho.

Paulo Ferreira, jornalista do Jornal de Notícias (JN), estava em Madrid “por acaso”. Na altura, Paulo trabalhava na secção de Economia. “Estava a dormir e recebi uma chamada do director por volta das 6.30 da manhã. Quando vi o telefonema dele percebi logo que alguma tragédia tinha que ter acontecido para ele ter ligado àquela hora. Explicou-me o que se passava e eu e o meu outro colega que também lá estava começamos logo a trabalhar”.

Em situação diferente estava Francisco Teixeira, da Rádio Renascença (RR). O jornalista da emissora católica estava na redacção de Lisboa e partiu para Madrid no primeiro avião depois do atentado. “Quando cheguei, à hora de almoço, circulavam pouquíssimos carros em Madrid. Em frente à estação de Atocha estavam já uns 50 ou 60 carros funerários estacionados, ambulâncias e um batalhão de jornalistas.”

Manuel Lopes, correspondente do Diário de Notícias (DN), vive na cidade. Segundo o jornalista, “a população espanhola viveu a tragédia com a raiva esperada, mas ao mesmo tempo com serenidade”.

A população mobilizou-se de imediato em torno da tragédia. “Em todos os edifícios havia algo que aludia àquela tragédia. As pessoas mobilizaram-se imediatamente para doar sangue, havia filas enormes. E lembro-me muito bem da consciência dos jovens que foram os primeiros a ir para a frente das filas, a organizar manifestações. Tinham um discurso muito nítido sobre a tragédia, sobre as causas, as consequências políticas…”, comenta Paulo Ferreira.

De acordo com o jornalista, a principal causa da revolta nos jovens foi o facto de “sentirem que ao longo do dia a informação que lhes estava a ser passada não era a correcta”. Nas primeiras declarações, o governo atribuía os atentados à ETA. No entanto, todos os dados apurados afastavam essa hipótese. “A dimensão da tragédia, a forma como ela ocorreu, o facto de não ter havido anúncio prévio, não parecia apontar para a ETA”, diz o repórter do JN.

Homenagens polémicas

Em relação às homenagens de hoje, os três jornalistas têm opiniões diferentes. Manuel Lopes diz não estar de acordo com as manifestações por considerar que estas “não passam de instrumentalizações do Governo”. Para o jornalista, a melhor homenagem seria o silêncio.

Na opinião de Francisco Teixeira, “numa tragédia como esta, faz todo o sentido lembrar e homenagiar as vítimas”. Ao contrário da Associação 11-M, que acusou os partidos de usar a dor para fins partidários, Francisco Teixeira considera não ter havido por parte do PSOE um aproveitamento político das vítimas.

Para Paulo Ferreira, “as homenagens têm a virtude de lembrar que não podemos ficar alheios a esta praga que é o terrorismo. Todos temos que ajudar nesta luta da forma que nos for possível”.

Andreia Barbosa