“Emocional_mente”! O que é que as emoções estão a fazer neste mundo? O que são as emoções? Podem-se medir? O que é que as produz? Elas estão dentro de nós, mas onde exactamente? Estas foram as questões iniciais que marcaram o desenrolar da conferência “Construindo emoções”, em Matosinhos, organizada pelo grupo de neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (UP) e pelo Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), no âmbito da semana internacional do cérebro.

José Manuel Curado, do departamento de Filosofia e Cultura da Universidade do Minho, colocava as questões e expunha as suas inquietações. As senhoras das ciências respondiam.

Liliana de Sousa, professora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da UP e do IBMC, abordou as emoções inatas. Há autores que defendem a existência de uma palete de apenas oito emoções, que são inatas e que podem ter diferentes gradientes de intenção (o que não implica que se possam medir de forma exacta). Estas são a ira, a tristeza, a alegria, o amor, o medo, a surpresa, a repulsa e o desprezo, que se podem subdividir noutras mais específicas.

Toda a gente tem tais emoções, independentemente da raça. Mas será que só nós, os humanos, as possuímos? Segundo Liliana Sousa, as emoções têm uma origem filogenética. A prova é bem visível nas expressões faciais. Tanto homens como animais manifestam de forma semelhante as suas emoções. Quando um tigre mostra os caninos e levanta as comissuras labiais está a expressar a sua ira, explicou a docente.

As experiências emocionais precoces são essenciais para um comportamento adequado, quando adultos, defende Liliana Sousa. O isolamento e a privação emocional, durante a infância, originam um comportamento emocional desequilibrado e a falta de interacção com o meio ambiente.

“Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na justa medida, no momento certo, pela razão certa e da maneira certa, isso não é fácil”. Esta máxima de Aristóteles permite compreender o que é inteligência emocional, ou seja, “a capacidade de identificar, gerar e gerir da melhor forma as emoções”, explicou ainda Maria Ivete Azevedo, presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Inteligência Emocional.

No final, José Curado concluiu que as emoções “desempenham um papel de comunicação entre os grupos” e concordou com o facto de os humanos terem uma “capacidade extremamente reduzida para sentir”, tal como para se lembrarem. Porém, não acredita que estas apenas habitem o cérebro. “Por que é que o cérebro não é apenas um sistema para captar a vida mental?”, perguntou. A ciência não convenceu o filósofo.

Milene Marques