Como grupo de teatro amador não é de esperar a realização de produções caríssimas, recheadas de efeitos especiais deslumbrantes e guarda-roupa vistoso, dado que os apoios financeiros também não abundam. Mas isso não impede os membros do Teatro Popular de Espinho (TPE) de darem o melhor de si em cada espectáculo, recorrendo-se apenas dos meios à sua disposição, acrescentando-lhe alguma imaginação e criatividade para que as possíveis falhas de cada espectáculo possam ser bem “maquilhadas” e escondidas do olhar do público.

José Ferreira é um dos elementos mais antigos e, por isso, uma das pessoas que dá consistência e experiência ao grupo. Durante cerca de 27 anos viu muita gente passar pelo TPE e conhece bem o historial de um grupo onde não é apenas actor. Está também ligado à parte técnica do espectáculo, em especial à montagem da parte de luz e som, para além de fazer tudo o que está ligado à actividade teatral e que passa pela cenografia e preparação da sala. “Gosto do desafio de enfrentar o público e de mostrar o meu trabalho inserido no colectivo”, diz.

O artista realça o ambiente vivido no TPE, onde “há muito trabalho, mas também muita brincadeira, muito convívio, muita solidariedade”. “Somos um ombro amigo quando é preciso e são estas as razões que me levam a continuar”.

Apesar do entusiasmo, o encenador António Paiva também confessa que, “por vezes aparece algum cansaço, porque há vícios de trabalho, há rotinas, a sala está suja, aqueles problemas de quem tem de aguentar um espaço e simultaneamente ir montando espectáculos. Se houvesse outros apoios seria mais fácil manter o nível de trabalho e até um entusiasmo maior”.

Para Carlos Gaio, outro dos elementos do grupo, o TPE é um grupo privilegiado “por ter o auditório que é alugado pela Cooperativa Nascente e nos permite utilizá-lo em exclusivo. Isto é muito bom, pois há grupos que sentem enormes dificuldades, pois não têm um local fixo onde ensaiar”.

No entanto, lamenta que embora, o TPE tenha “apoios eventuais e pontuais da Câmara de Espinho, alguns materializados em géneros, com a cedência de materiais ou de espaços, em termos de financiamento”, vive principalmente “do dinheiro da bilheteira e das verbas da Nascente”.

O responsável reconhece que “as dificuldades são grandes”. “O material, em especial ao nível de luz e som é um bocado antigo e com dinheiro podíamos fazer mais coisas, pensar mais alto em termos de cenários e figurinos”, diz.

Carlos Gaio revela que “essa falha em termos técnicos tem de se remediar com mais imaginação e improviso o que também acaba por ser uma marca dos espectáculos”. “Tentamos tirar o melhor partido do espaço que temos, dos cenários e figurinos que temos, reciclando e voltando a usar, o que nos obriga a ser criativos”, afirma.

Daniel Brandão