“Nino” Vieira deverá regressar a Bissau ainda hoje ou amanhã, disse ontem à Lusa Jorge Pinto, o coordenador de um movimento que defende o regresso de João Bernardo “Nino” Vieira, exilado em Portugal desde 1999.

O ex-chefe de Estado de Bissau deverá viajar até ao país com o objectivo de se recensear, para depois ser depositada no Supremo Tribunal de Justiça a sua eventual candidatura à chefia do Estado africano.

“Com o regresso de ‘Nino’ Vieira penso que a situação poderá piorar. Sou dos que pensam que o seu regresso poderá provocar conflitos. Aquilo que foram os valores que moveram o ex-presidente quando era jovem e estava na luta armada, eram valores de ordem nacionalista, mas muitos anos depois acho que os valores se corromperam”, afirma José Barros, guineense membro da Associação Académica de Coimbra (AAC) e outra estudante dessa universidade.

O ex-estudante guineense explica que “Nino” Vieira chegou ao poder após uma luta de libertação nacional. “Foi indiscutivelmente um grande chefe de guerrilha e isso faz com que exista uma facção [apoiante] dele no seio das forças armadas que tem servido para soluções militares”, afirma José Barros.

José Barros considera que o regresso do ex-chefe de Estado de Bissau é despropositado. “Luís Cabral saiu há muito mais tempo de Bissau e entre os dois eu acho que o ‘Nino’ cometeu muito mais erros. Luís Cabral foi um megalómano, fez coisas sobredimensionadas para a economia do país, mas não se consta que se tenha deixado corromper como o ‘Nino’”, menciona o membro da AAC.

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) pediu aos políticos da Guiné-Bissau para se abstenham de acções que possam incitar à violência e o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, dirigido por Freitas do Amaral, já acusou o Partido de Renovação Social (PRS) e Kumba Ialá de estar a colocar em risco os esforços de estabilização do país.

“Kumba Ialá arruinou-se pessoalmente”

Um dos fundadores do PRS, José Pina, afirmou ao semanário independente guineense “Kansaré” que a população “não pode cometer a loucura de votar outra vez” em Kumba Ialá nas proximas eleições presidencias de 19 de Junho. “Kumba Ialá arruinou-se pessoalmente. É um homem que não tem postura de Estado”, defende José Barros.

Situação em Bissau sem solução à vista

José Barros, guineense membro da Associação Académica de Coimbra, diz que a “Guiné-Bissau tem poucos quadros políticos e os que lá estão já estão há muito tempo, caíram e voltaram a ascender ao poder. A população já não acredita nesses políticos. É necessária uma lufada de ar fresco, com alguém perfeitamente independente”.

Pedro Sales Dias
Foto: DN