António Quadros Ferreira é o presidente do Conselho Directivo da FBAUP, instituição que, se contarmos com todas as fases por que passou, completa 225 anos em 2005. Ainda não totalmente integrada no sistema universitário e vista, desde sempre, como um mundo à parte, ao nível do ensino, a FBAUP vive problemas relacionados com as instalações e com as exigências do processo de Bolonha. O homem que lidera os destinos da instituição recebeu-nos no seu gabinete.

Dirige os destinos de uma instituição responsável por grandes nomes da arte e da arquitectura portuguesas e que comemora 225 anos. O que significa esse número?

São 225 anos do ensino de belas-artes. Estamos integrados na UP há mais ou menos dez anos. É todo um conjunto de memórias, desde 17 de Fevereiro de 1780. O processo de integração na UP ainda não está totalmente assimilado pelas estruturas da escola. Temos uma memória muito positiva, há uma história de que nos orgulhamos. A integração plena na UP não pode ser feita à custa de um apagar da história.

Tem-me sido referido o facto da UP pôr um bocado à margem a FBAUP. Por outro lado, também há quem defenda que são os estudantes que se põem à margem das restantes faculdades…

Penso que existem algumas ambiguidades ao nível dos alunos e ao nível dos professores relativamente à forma como nos podemos comportar no seio da UP. Nestes meses à frente do Conselho Directivo, penso que essa crítica existe, de facto, mas não é totalmente correcta. Sinto, da parte da reitoria, abertura suficiente e vontade de colaborar activamente com a FBAUP. Muita dessa confusão resulta ainda de uma deficiente comunicação. Ao nível da faculdade, há talvez algum desconhecimento acerca dos privilégios e dos deveres a que a UP obriga. Sinto isso ao nível de alunos, de alguns professores e não tanto ao nível da reitoria.

Mas não sente, da parte dos alunos, um desejo de se manterem à distância das outras faculdades?

Essa situação não tem tanto a ver com a anterior. Tem mais a ver com a própria natureza dos estudantes de Belas-artes, que é muito particular. A natureza de artista ou candidato a artista suscita um comportamento que leva a certos níveis de utopia, comportamentos muito personalizados, muito diferenciados. Isso é muito típico da escola. Às vezes não sabemos se o que está em causa é uma vontade de separação simbólica ou se é mais do que isso, uma falta de vontade em aderir à própria UP. Penso que é um pouco de tudo. Mas não há problema nenhum em conjugar a integração na UP com o respeito pelas especificidades da escola de arte.

Em época de crise, como é que se motivam os alunos a fazer os seus cursos de belas-artes?

A crise é geral, portanto, tem consequências ao nível desta escola. Desde sempre que esta escola prepara futuros artistas. Antes, os nossos licenciados tinham como alternativa profissional o ensino. Isso está posto em causa, não há vagas. Não há forma de garantir o êxito profissional. O que há, da parte do actual conselho directivo, é um esforço de minimizar as dificuldades. Isso pode acontecer de duas maneiras: celebrámos um acordo com a Faculdade de Psicologia [e Ciências da Educação] que permite a criação de um curso de formação profissional para docência em artes visuais. Esperamos agora que essa proposta seja creditada pelo ministério para poder ser posta em prática no próximo ano lectivo; a segunda etapa consiste na necessidade de se integrar nos nossos cursos de formação inicial a tal preparação pedagógica. Isso terá que ter em conta a nossa reforma curricular em curso, já dentro dos acordos de Bolonha.

Quais são os efeitos do processo de Bolonha sentidos nesta faculdade?

Estamos em crer que é completamente impossível uma reforma curricular respeitando os acordos de Bolonha, sem que um primeiro ciclo tenha, pelo menos, quatro anos. A fórmula “3+2” é perfeitamente impensável e não se adequa ao nosso sistema de ensino. Em belas-artes, existe um tempo para fazer, para amadurecer. Essa valência não pode ser precipitada. Não se consegue abreviá-la para três anos. Apostamos em defender até ao limite das nossas forças um cenário em que o primeiro ciclo tenha pelo menos quatro anos. Também queremos apostar muito no segundo ciclo, nas pós-graduações e nos mestrados.

Em que consiste o protocolo firmado com a a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia

Esse protocolo, que inclui a nossa faculdade, a Câmara de Gaia e a empresa Gaianima, foi feito para se aproveitar o espaço do convento Corpus Christi, interessante do ponto de vista arquitectónico, para as nossas pós-graduações. Temos de facto grandes dificuldades em relação às nossas instalações. Achamos interessante concentrar as nossas pós-graduações num outro edifício que não está a ser ocupado integralmente.

Entretanto, aqui no espaço de belas-artes, há um edifício a ser acabado…

As obras terminam, em princípio, no Verão. O edifício vai descongestionar a situação actual. Não a vai resolver da forma ideal porque os problemas de espaço são muitos. Temos vindo a ocupar o nosso pavilhão de exposições com aulas de pintura, o que é um atentado ao referido espaço. O novo edifício poderá resolver esse problema. Depois, queremos iniciar um processo de reabilitação dos outros edifícios.

Carlos Luís Ramalhão