À saída de um encontro decorrido esta manhã com Xanana Gusmão, em que os dois bispos de Díli e Baucau foram ouvidos separadamente, a Igreja Católica de Timor reafirmou a sua oposição à continuidade de Mari Alkatiri no cargo de primeiro-ministro. Após o primeiro encontro com o Presidente da República, que durou mais de duas horas, os dois bispos reafirmaram que os motivos para a convocação da manifestação permanecem intactos.

Através de um documento de duas páginas assinado pelo porta-voz do Episcopado timorense, o padre Domingos Soares, a Igreja Católica reagiu também às declarações recentes do primeiro-ministro, que alegavam que o apelo à demissão do Governo seria inconstitucional.

A Igreja argumenta que “o pedido de remoção do primeiro-ministro pelo povo é constitucional”, salientando que este pode ser demitido pelo Presidente da República “para assegurar o funcionamento normal das instituições democráticas”. Fica, no entanto, a hipótese de “o parlamento não querer fazer isto”. Por isso, desafiam um quarto dos 88 deputados que compõem o Parlamento Nacional a apresentarem uma moção de censura contra o Governo.

O encontro com Xanana decorreu no nono dia após o início do conflito entre Igreja e Governo, que mobilizou para as ruas centenas de pessoas a rezar junto a imagens de Nossa Senhora e de Jesus Cristo e a exigirem a demissão do primeiro-ministro.

No final da reunião, D.Basílio do Nascimento afirmou que “a manifestação mantém-se até se encontrar a ultrapassagem das divergências. Existem divergências e discordâncias, mas não são divisoras”. O bispo de Baucau considera que “as discordâncias são naturais”, e que “a vida é feita de discordâncias e de harmonia”.

Primeiro-ministro disponível para dialogar

Para além dos dois bispos, D. Alberto Ricardo da Silva, de Díli, e D.Basílio do Nascimento, de Baucau, Xanana Gusmão reuniu-se também com o primeiro-ministro Mari Alkatiri que, após duas horas de negociações, reafirmou a sua disponibilidade para reunir com os dois bispos. “[Importa] desbloquear alguns canais, para ver se dentro de poucas horas podemos dialogar”, disse.

O primeiro-ministro depara-se com um novo problema: a estabilidade dentro do seu próprio partido. Em declarações à agência Lusa, Mari Alkatiri garantiu que está em contacto com todos os militantes e quadros do partido, que eles “estão sossegados”, e que “têm um sentido de disciplina que é invejável”. Quanto à realização no próximo sábado de uma reunião extraordinária do Comité Central da FRETILIN, o também secretário-geral do partido, disse apenas que o objectivo é “prevenir novos tipos de conflito”.

Anabela Couto