A Human Rights Watch (HRW) acusou ontem, quarta-feira, as forças militares dos Estados Unidos de falta de eficácia na implementação de medidas básicas de precaução nas barreiras de controlo no Iraque, frisando ainda que essa ineficácia levou à morte desnecessária de civis.

A primeira chamada de atenção pela HRW ocorreu no dia 4 de Março, quando um agente de informações do governo italiano, Nicola Calipari, foi morto num dos postos de controlo militar. O incidente vem confirmar mais uma vez as suspeitas de graves falhas nos procedimentos militares.

Em Maio, o Pentágono divulgou uma investigação até então secreta à morte de Nicola Calipari, ocorrida em Março. O agente de informações italiano foi abatido num posto de controlo militar quando acompanhava uma repórter italiana ao aeroporto, após a jornalista ter sido libertada por raptores iraquianos. Apesar da investigação exonerar de culpa o pessoal militar envolvido, demonstra que o exército falhou na implementação de medidas mais eficazes nos procedimentos dos controlos militares.

As forças militares norte-americanas designam de “posição de bloqueio” o posto de controlo onde Calipari foi abatido. Posições de bloqueio são postos de controlo onde as unidades militares bloqueiam a circulação de veiculos sem os revistar. De acordo com a investigação norte-americana, a unidade militar em questão teve o curso de procedimentos tácticos básicos, mas este conjunto de procedimentos não “refere orientação táctica para as posições de bloqueio”. O Pentágono admitiu que os “soldados não tinham sido treinados para executar posições de bloqueio”.

“Complacência não é desculpa”

“O exército deve imediatamente realizar os primeiros passos para assegurar que tanto os civis iraquianos como os soldados norte-americanos estão seguros nos postos de controlo”, afirmou o analista militar Marc Garlasco à HRW, acrescentando ainda que “o facto dos soldados nas barreiras de controlo estarem submetidos a um grande risco de vida não é desculpa para complacência nem para que esse risco passe também para os civis”, frisou.

A investigação indica que, em vez de seguir linhas de orientação escritas, a unidade militar usava procedimentos informais passados de unidade para unidade.

“Não faz sentido usar soldados não treinados para operações tão sensíveis como os postos de controlo”, afirma Garlasco, acrescentando ainda que “estes procedimentos colocam tanto os militares como os civis iraquianos em risco.

De acordo com fonte oficial do exército norte-americano, na noite em que Calipari foi abatido, a unidade militar de serviço não usava sinais para avisar os veículos para diminuírem a velocidade. O relatório do exército norte-americano recomenda o estabelecimento de um programa para informar os civis iraquianos de como se devem comportar nos postos de controlo.

Nenhum dos elementos de precaução e sinalização, recomendados pelo Pentágono, estava aparentemente em uso nessa noite. Não foram aplicadas medidas que podiam ter evitado a morte do agente italiano.

Relatório italiano aponta graves falhas

Um relatório separado do governo italiano divulgado em Maio, suporta muitas das descobertas do relatório norte-americano, mas diverge em alguns detalhes, particularmente na falha das forças militares norte-americanas para preservar e documentar os locais onde se situam provas de crimes, assim como a destruição das provas pelos próprios militares.

O relatório italiano descobriu também que os militares em serviço no ponto de controlo destruíram os registos do pessoal de serviço que tomou parte do tiroteio em que o agente de informações italiano foi abatido. A Human Rights Watch já pediu ao exército norte-americano para ter mais atenção na preservação de provas.

Pedro Sales Dias