“Acho que canto melhor cá”. Esta é uma das razões para Julio Iglesias estar mais uma vez de volta a Portugal. O cantor espanhol vai estar amanhã, sexta-feira, e sábado, no Casino de Espinho para actuar mais uma vez num dos palcos que melhor conhece. “Poucos artistas podem voltar trinta vezes a um sítio”, afirmou Iglesias, na conferência de imprensa de hoje. O cantor revelou sentir uma grande afinidade por Portugal por diversas razões, nomeadamente linguísticas e familiares, já que a sua família reside na Galiza.

Para o cantor, as fronteiras entre Portugal e Espanha são praticamente inexistentes: “a fronteira portuguesa é muito fina”, diz. Julio Iglesias não esquece ainda a gratidão para com o Casino Solverde que há muitos anos o acolhe: “Dão-nos de comer e uma cama para dormir”, brinca. Já mais a sério, revela o ambiente descontraído que sempre encontra quando se desloca a Espinho. “Aqui conhecem-me muito bem, não fazem muitas perguntas pessoais, é o melhor lugar para mim, para pensar nas minhas coisas”, confessa.

Um artista mundial

Julio Iglesias é um dos artistas mais conceituados e respeitados de todo o globo, tendo alcançado, ao longo de 36 anos de trabalho, inúmeros prémios, batido recordes e construído uma sólida carreira, comparável apenas às de nomes míticos da música como Frank Sinatra ou Elvis Presley. Gravou mais de 79 álbuns, tendo estes vendido mais de 265 milhões de cópias; figura no “Guiness Book of World Records” como sendo o artista que, em toda a história, mais discos vendeu em diversos idiomas; foi distinguido com mais de 2.860 Discos de Ouro e Platina; é o único artista do mundo a quem foi atribuído um Disco de Diamante por ter alcançado num período de 10 anos de carreira um nível de vendas superior a 120 milhões de discos; já realizou mais de 5.142 espectáculos em todos os continentes; em cada minuto que passa, uma canção sua é tocada algures numa rádio ou televisão do planeta.

Mas apesar de todos os feitos que já alcançou, aos 61 anos, Julio Iglesias revela não ter esgotado ainda a sua paixão pela música e pelos palcos. A prova disso é esta nova digressão mundial que o traz mais uma vez a Portugal, mas que passa também por França, Estados Unidos, Austrália e Ásia.

“Quero aproveitar muito bem a minha vida, não quero deixar de cantar em nenhum lugar”, afirma o cantor, revelando também uma modéstia invulgar para quem alcança um reconhecimento mundial tão elevado quanto o seu: “devo muito à aprendizagem que todos os artistas com quem pude cantar me proporcionaram”. E aproveita para revelar que no próximo ano irá lançar um novo álbum totalmente cantado em francês.

Amália é única

Para quem já actuou em tantos países, perante públicos tão diferentes como o americano ou o chinês, todas as pessoas que ouvem a sua música têm um único denominador comum que vai muito para além da língua ou da cultura: a alma. “As emoções e sentimentos dos que me ouvem são os mesmos em todo o mundo, só a língua em que são exprimidos é que é diferente”, afirma. “As pessoas não se emocionam pelas suas condições climatéricas ou disposição anímica”, mas pela alma e essa “é uma coisa universal”, afirma Julio Iglesias.

E que género musical representa melhor a alma e o sentimento do que o fado? Julio Iglesias não esquece Amália Rodrigues, com quem cantou em algumas ocasiões, e relembra o quanto ficou emocionado quando num dos seus concertos percebeu que a fadista estava presente, sentada na primeira fila. “Muitas mulheres cantam bem em Portugal, mas quantas como Amália? Nenhuma”, afirma convicto.

Apesar de tantos anos de experiência com que a sua carreira já conta, Iglesias não deixa nunca de sentir um certo nervosismo antes de cada espectáculo. “A primeira coisa que um artista quer saber é quantas pessoas estão no espectáculo. A maior angústia dos artistas é saber se as pessoas ainda gostam deles”, diz o cantor. E depois de tanto tempo em cima dos palcos o que mudou em Julio Iglesias? “Há uma grande diferença entre como cantava no início e agora, mas não na emoção”.

Julio não sente necessidade de competir com os cantores mais recentes. “Os jovens usam sistemas acústicos melhores e é muito difícil a um artista clássico igualá-los”, reconhece. Para além disso, “é muito tarde para ter uma estratégia” para chegar junto do público mais jovem: “tento somente fazer discos o melhor possível”.

“A minha vida não é interessante”

Apesar da sua fama e reconhecimento ultrapassarem fronteiras e de os seus espectáculos arrastarem multidões de fãs, Julio Iglesias, ao contrário de outras personalidades do mundo do espectáculo, não costuma aparecer nas páginas das publicações “cor-de-rosa”. A explicação do cantor é simples: “não tenho provocado as revistas do coração, não vou a muitos locais públicos, apenas quando estou em digressão, não vou a entrega de prémios, não aceito prémios”. “A minha vida não é interessante para as revistas do coração; só se quiserem tirar fotos minhas no estúdio”, ironiza.

E qual é o mercado-alvo de Julio Iglesias? “A minha casa é o melhor mercado”, diz em tom de brincadeira. “A minha mulher compra todos os meus discos. Ela e os meus filhos mais pequenos são os meus maiores fãs. Até o meu cão gosta da minha música, acho eu”, brinca. E lança o aviso: “Esta não vai ser a minha última vez em Portugal”.

Daniel Brandão