Qual é os significado de se ser investigador em Portugal?

Ser investigador é realmente algo de importante em termos do próprio trabalho que desenvolvemos. Há uma necessidade cada vez maior de consciencializar a população para a importância da ciência.
A minha experiência é muito recente em Portugal. Cheguei há praticamente sete meses de um doutoramento que fiz na Bélgica.
Estou a trabalhar num instituto de grande qualidade onde felizmente também há um grande investimento em termos de ciência. Mas, pelo que sentimos, esse investimento não é o que deveria ser, porque há ainda muita falta de financiamento para alguns projectos.
A competição é extremamente elevada, mas há uma vontade crescente dos governantes e de toda a indústria em geral no desenvolvimento científico. De facto, é precisa muita coragem.

Sente-se incentivada em Portugal?

Agora começa a ser bastante positivo. Há um aumento do incentivo para a ciência e há um incremento do investimento ao nível de projectos e de bolsas. Tive a sorte de ter tido uma bolsa de doutoramento que me permitiu estar a tempo inteiro na Bélgica a desenvolver toda a minha actividade e a ter a minha formação. Mas a minha vontade era realmente regressar ao país.
A uma certa altura houve um aumento muito grande a nível do financiamento de bolsas de doutoramento, mas reduziram-se as bolsas de pós-doutoramento. Penso que a qualidade está a aumentar, assim como há um aumento das empresas que participam e que tentam fomentar, mas ainda é tudo muito restrito.
Há também alguns incentivos em termos de projectos, mas não são suficientes. Há muita investigação com uma grande qualidade feita em muitos institutos no país e que não são suportados financeiramente. Portanto, é extremamente difícil fazer investigação nessas condições.

O IPATIMUP acaba por ser um exemplo de sucesso em Portugal. Como é trabalhar neste instituto?

É muito estimulante. Este é um instituto com um “bom nome”, que faz muito em termos de ciência e de divulgação científica e também uma parte de diagnóstico. Felizmente também tem muito financiamento até ao momento. O ambiente é muito bom. Os nossos chefes têm uma capacidade e um poder crítico muito grande. Acho que a qualidade é excelente.

Há muitas diferenças entre o IPATIMUP e outras institutos de investigação no estrangeiro?

Pelo que pude ver quando estive fora na Bélgica, não acho, de maneira alguma, que haja diferenças em termos de capacidade entre o IPATIMUP e outros institutos estrangeiros.
As pessoas são extremamente capazes e têm uma qualidade excelente. Há contudo uma maior burocracia que resulta num determinado impedimento. Perdemos muito mais tempo a fazer coisas que à partida não nos são realmente dirigidas. Mas é extremamente bom.

Hugo Manuel Correia
Foto: Liliana Rocha Dias