“Utopia e Espiritualidade” foi o mote de conversa na conferência que se realizou ontem, quarta-feira, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Os investigadores João Carlos Serafim e Pedro Tavares discutiram o cruzamento dos pensamentos utópicos com a religião e a política.

Numa viagem entre o século XV e XVIII, as utopias foram o ponto de partida para ver o passado português com outros olhos. Os conferencistas referiram não só os famosos Thomas More e Campanela, mas também o desconhecido Pedro de Rates. Condenado à morte por tentar convencer D. Manuel, irmão do rei D. João V, a viajar para o Brasil – o paraíso na Terra – e proclamar-se rei do império português, o caso de Pedro de Rates mostra como as questões utópicas de espiritualidade estão ligadas aos fenómenos políticos.

“A utopia não foi uma fuga ao mundo, mas, pelo contrário, pretendeu estar ao serviço dele”, disse João Carlos Serafim. Dessa forma, as reformas e contra-reformas no Ocidente Europeu sempre se espelharam nas ambições e frustrações concretas dos escritos utópicos, adiantou Pedro Tavares.

“Utopia e Espiritualidade” foi a última conferência do colóquio interdisciplinar “Saberes Partilhados: o espaço da Utopia na cultura portuguesa”, organizado pelo projecto de investigação “Utopias Literárias e Pensamento Utópico: A Cultura Portuguesa e a Tradição Intelectual do Ocidente II”, sediado no Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa da FLUP.

“O balanço do colóquio é altamente positivo, pois durante três meses e com a participação de diferentes centros de estudo e instititutos foi possível juntar pessoas e cruzar várias áreas do saber”, afirmou ao JPN Zulmira Santos, membro da organização do colóquio.

Texto e foto: Joana Beleza