“O banco de tempo é um banco em tudo igual aos outros. Tem agências, horário, cheques, depósitos e a particularidade de utilizar o tempo como moeda de troca”, explica o site do Graal, movimento internacional de mulheres, com uma vertente cristã, que entre outras actividades, coordena o banco de tempo central em Portugal.

Ao abrir uma conta numa agência local de banco do tempo, qualquer pessoa que dispense uma hora para prestar um serviço a alguém, é retribuida com um serviço à escolha com a mesma duração.

Numa altura em que toda a gente se queixa de falta de tempo para resolver todos os problemas que surgem diariamente, estes bancos surgem com o intuito de rentabilizar o espírito solidário da comunidade para remediar essa falha.

Qualquer pessoa pode aderir ao banco de tempo, inclusive os menores com autorização dos respectivos encarregados de educação. É no acto de inscrição na agência local, que preenchem uma ficha onde dizem quais os serviços que se disponibilizam a prestar.

No banco de tempo todos os membros têm que pagar uma quota anual de 4 horas, que é depositada na conta da agência. Em seguida, quando necessitarem de um serviço, contactam a sua agência, que vai procurar na base de dados dos membros alguém que o possa realizar.

Uma vez realizada a tarefa, o pagamento é feito com um cheque, em função do número de horas prestadas, que é enviado à agência de tempo para que seja creditado na conta de quem fez o serviço e debitado na de quem o recebeu. O limite máximo de diferença entre tempo recebido e oferecido é de 20 horas.

Os serviços prestados pelas pessoas incritas no banco do tempo são bastante diversificados. Variam entre o acompanhamento de crianças e as mais diversas actividades recreativas, pedagógicas, de bricolage, de ajuda doméstica, de secretariado, de jardinagem, passando pelo simples acto de fazer companhia, entre outras.

As raízes da moeda tempo

Os primeiros bancos de tempo surgiram em Itália no início dos anos 90. Nasceram com o objectivo de potenciar um sistema de entreajuda no seio da comunidade, através da troca de tempo, materializada pela prestação de serviços, sem qualquer retorno monetário. Procurava-se restabelecer o verdadeiro espírito de vizinhança.

Em Portugal, o banco de tempo surge em 2001 inspirado no modelo italiano, quando o Graal começa a trabalhar no projecto. Contudo, foi em Barcelona, que o Graal se familiarizou com o conceito de banco de tempo, através da Associação “Salut Y Família”, que o desenvolve de forma semelhante em Espanha.

Naquele ano foram criadas as infra–estruturas e as parcerias com as instituições locais, para nos inícios de 2002 serem lançadas as primeiras agências. A primeira nasceu em Abrantes. Hoje existem 18 bancos de tempo espalhados por todo o país, que resultam da parceria de 32 entidades locais com o banco central, coordenado pelo Graal.

Cada agência de tempo, tem assim “características, estratégias e ritmos próprios”, desenvolvendo “uma diversidade de modelos”.

Os meios técnicos e o equipa de funcionários ficam a cargo dos parceiros locais. O banco central é a parte impulsionadora que “apoia o funcionamento, facilita a criação de novas agências e promove a divulgação a nível nacional e a interacção internacional” das mesmas, explica o “site” do Graal.

Milene Marques
Foto: Getty Images