Já todos ouvimos dizer que o mundo é pequeno. O que nem todos sabem é que a ciência comprova esse lugar comum. O estudo das redes é um novo campo de investigação da física que atravessa várias ciências. O Departamento de Física da Universidade de Aveiro (UA) destaca-se nesta área de investigação que, em pouco mais de cinco anos, se tornou num campo “quente” da Física, como explica o investigador José Fernando Mendes.

“Por trás de tudo o que nós pensamos e lidamos está uma rede. Há uma rede jornalística, há a rede da Internet, redes sociais… O tópico tornou-se muito popular e interessante pelo facto de ter múltiplas aplicações”, explica ao JPN o professor e investigador do Departamento de Física da UA.

São múltiplas as aplicações do conhecimento das redes e vão desde o estudo das redes sociais ao desenho de novos medicamentos. “No futuro, cada pessoa vai ter um medicamente para si e não uma aspirina para toda a gente. Espera-se que cada pessoa tenha um medicamento para o fígado diferente do da outra pessoa, embora seja a mesma doença. Espera-se que o estudo das redes biológicas [de cada indivíduo] possa dar um contributo nesse sentido, porque quando se toma um medicamento ele vai reagir quimicamente com um elemento. Isso vai quebrar uma ligação, eliminar um elemento na rede que não devia lá estar”, explica Mendes.

O investigador da UA afirma-se como autor do único livro dedicado ao estudo das redes em geral. “Evolution of Networks: from Biological Nets to the Internet and WWW” foi editado em 2003 pela Universidade de Oxford. “Têm saído muitos livros [sobre redes específicas], mas mais abrangente continua a ser o único”, sustenta o autor.

Falta acesso a dados

Apesar do pioneirismo, o Departamento de Física da UA não tem “feito muito trabalho aplicado”. “Não temos tido acesso a dados empíricos de redes reais e temo-nos cingido a estudar as propriedades tipológicos e características dessas redes no seu aspecto mais teórico e analítico”, reconhece José Fernando Mendes.

Mesmo assim, o departamento consegue “ganhar projectos na área da matemática, da biologia e da física, o que mostra a amplitude destes estudos”.

Mendes é um dos sete investigadores envolvidos no projecto europeu DYSONET que pretende caracterizar quantitativamente as redes sociais complexas através da análise de dados concretos, como os comportamentos das multidões, técnicas de pesquisa, tráfego automóvel, dinâmicas das redes de relações humanas e o desenvolvimento de epidemias.

O investigador dá um exemplo hipotético da área de estudo do DYSONET: “Imagine-se que o governo português quer prevenir uma determinada doença, mas tem recursos limitados e só pode vacinar mil pessoas. Que mil pessoas deve vacinar? A primeira pergunta que se põe é ‘quem são as pessoas mais influentes a nível social?’. Como descobrir essas pessoas? Há maneiras fáceis, como abrir a lista telefónica, escolher aleatoriamente um nome, ligar para essa pessoa e pedir para que ela dê o nome de outra pessoa. Em geral, dão o nome de uma pessoa muito influente. É uma coisa tão simples que se for implementada dava resultados”.

Pedro Rios
Foto: José Fernando Mendes