O “ultimato” das companhias de teatro nortenhas à ministra da Cultura acabava ontem e foi no último dia do prazo que Isabel Pires de Lima se pronunciou pela primeira vez sobre a complicada situação financeira das companhias de teatro nortenhas, gerada pela suspensão por providência cautelar da atribuição das verbas do Instituto das Artes (IA) para 2005.

Em conferência de imprensa, ontem à tarde, Isabel Pires de Lima garantiu empréstimos a fundo perdido de 10 mil euros a cada companhia afectada. “Finalmente falou, mas falou tarde e a solução não é solução”, afirma ao JPN a directora da Plateia (Associação de Profissionais das Artes Cénicas), Catarina Martins. Para a responsável da Plateia, a solução passa antes por um “fundo de emergência a sério”, que corresponderia a um empréstimo com juros.

Uma exigência da Plateia que não foi respondida pela ministra da Cultura é a demissão do director do IA, Paulo Cunha e Silva. Para Catarina Martins, Cunha e Silva lidera uma direcção “trapalhona, inconsequente e irresponsável” e que dialoga pouco com as companhias em crise.

Catarina Martins critica também a atribuição igualitária da verba de apoio, já que “os endividamentos [das companhias nortenhas] são muito diferentes”. A directora da Plateia refere que o financiamento mais baixo do IA para estas companhias rondava os 50 mil euros e o mais alto os 240 mil.

A responsável da Plateia adianta que “é importante ir negociando e pensando na situação legal” caso a providência cautelar se mantenha ou o processo se arraste nos tribunais para lá de Dezembro. Nesse caso, alerta, “o dinheiro volta para o Tesouro” e as companhias perdem as verbas do IA relativas a 2005.

Boas Raparigas não vão retomar actividades

Também Maria do Céu Ribeiro, directora de produção da companhia As Boas Raparigas, que suspendeu actividades há quase dois meses, qualifica o empréstimo do Governo como uma “medida de remedeio” e um “apoiozinho” às companhias.

“Dois mil contos numa situação em que suspendemos actividade há quase dois meses são bem-vindos, mas não são uma resolução final”, afirma. No entanto, a directora compreende “que a ministra precise da decisão do tribunal” para poder agir mais eficazmente.

O apoio não é suficiente para As Boas Raparigas retomarem actividades, já que o dinheiro terá que ser aplicado no pagamento de salários e dívidas, explica a directora.

Pedro Rios
Foto: Salomé Pinto da Silva