Uma “bola de neve suja”. Para já, esta é a melhor forma que a astrónomos encontram para definir a constituição dos cometas. No entanto, a comunidade astronómica internacional está prestes a dar um passo decisivo na investigação destes corpos celestes.

Durante a madrugada de hoje, segunda-feira, pelas 6h52 (hora de Lisboa), a sonda “Deep Impact” da Agência Espacial Norte-Americana (NASA) vai encontrar-se com o Cometa 9P/Tempel 1, largando uma carga com um peso de 370 quilos e com o tamanho aproximado de um automóvel.

Esta carga vai colidir [FLASH] com o cometa a uma velocidade de 10 quilómetros por segundo. A violência do impacto da carga pode originar uma cratera com o tamanho de um campo de futebol.

Em Portugal também vai ser possível acompanhar de perto a missão da Sonda “Deep Impact”. O Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) preparou um programa [PDF] de actividades para divulgar a missão que pode ficar na História da Astronomia.

Durante todo o dia de hoje, o público em geral poderá participar em debates e palestras sobre as primeiras imagens do cometa divulgadas pela NASA. A partir das 22h00 será possível observar o cometa 9P/Tempel no próprio observatório do CAUP.

A observação desta missão vai permitir aos astrónomos descortinar os materiais que constituem os cometas que, segundo os cientistas, estão na origem do sistema solar. Conhecendo-os melhor, estaremos mais próximos de perceber a origem da Terra e de perceber como surgiu a vida no nosso planeta. Além disso, os cientistas não negam que esta missão pode também vir a ser útil para perceber como reagir num eventual choque de um cometa com a Terra.

Missão com alma internacional

Os cometas são visíveis porque enquanto viajam libertam poeiras que reflectem a luz solar e libertam gases que reagem à radiação do sol emanando luz. Ao longo do tempo, os cometas parecem “adormecer”, permanecendo um mistério se isso se deverá ao esgotamento das poeiras e dos gases, ou se estes ficam selados no seu interior.

A missão da “Deep Impact” pode, portanto, vir a desempenhar um papel de destaque para desvendar este mistério. Porém, para ser bem sucedida, o impacto terá de ser acompanhado em permanência. Será necessário recolher o maior número de dados do cometa antes da colisão para que seja possível avaliar as alterações antes e após o impacto.

A “Deep Impact” vai analisar a colisão da carga sobre o cometa a uma distância nunca inferior a 500 quilómetros. Vai observar o cometa nos momentos anteriores à colisão, recolhendo dados sobre o tamanho, o período de rotação, a sua dimensão e reflectividade, que o permitam caracterizar em pormenor. Depois será necessário observar os momentos seguintes ao impacto.

Para isso, a “Deep Impact” terá o auxílio de 60 observatórios espalhados por 20 países. No espaço, os telescópios Hubble, o Chandra, o XMM-Newton e o Spitzer vão manter um olhar atento à missão. Assim, o fenómeno será observado por diferentes instrumentos que recolhem dados que abrangem uma grande parte do espectro electromagnético.

Hugo Manuel Correia
Foto: NASA