O 80º aniversário foi apenas um pretexto para a homenagem prestada, ontem, terça-feira, a António Gaio, director do Cinanima – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho, organizada pelo Instituto de Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM) e pela Casa da Animação, que lhe atribuiu o título de Sócio Honorário da Instituição.

Na cerimónia estiveram presentes, para além da ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, que salientou a dedicação de António Gaio “à causa pública”, também a directora da Casa da Animação, Manuela Lima, o Presidente da Câmara Municipal de Espinho, José Mota, a directora do FantasPorto, Beatriz Pacheco Pereira e o documentarista Jorge Campos, entre outros amigos e admiradores do homenagado.

“Figura ímpar da cultura portuguesa”

Isabel Pires de Lima definiu António Gaio como “uma figura ímpar na cultura portuguesa” e salientou a coragem de um homem que deu a conhecer o cinema de animação em Portugal, numa altura (finais da década de 70) em que o país “saía de um período de escuridão política e cultural”.

“A sétima arte”, afirmou a ministra da Cultura, “faz-se de histórias e de sonhos”. E “o Cinanima cumpriu um papel de relevo na cultura portuguesa: trouxe frescura e irreverência. Aguçou curiosidades e despertou talentos”, disse a ministra durante a cerimónia.

Já a directora do FantasPorto, Beatriz Pacheco Pereira, definiu o Cinanima como “uma escola do melhor que se faz em Portugal no sector da animação”.

No final da cerimónia, o homenageado agradeceu a simpatia dos presentes. “Senti-me pequenino a ouvir estes elogios”, afirmou. No entanto, garantiu que o que faz “é por amor ao cinema e à cultura”. “E o que se faz por devoção”, concluiu António Gaio, “não deve ser agradecido”.

Críticas

A homenagem foi também uma oportunidade para lançar críticas à política cultural dos últimos anos. Beatriz Pacheco Pereira lamentou que poucos eventos culturais consigam, no nosso país, atingir o patamar de qualidade do Cinanima. Isto porque, afirmou, “o agente cultural ainda é um profissional mal-amado em Portugal”.

A directora do FantasPorto aproveitou a presença da ministra da Cultura e do Director do ICAM para deixar um recado: “É necessário criar uma Lei do Mecenato justa, que não favoreça apenas as instituições que trabalham com o Estado”, afirmou.

Em resposta a estes apelos, a ministra da Cultura afirmou que o Governo já está a tomar medidas no sentido de alterar a Lei do Mecenato, que deverá “ter uma maior agilização e proximidade, podendo ser aplicada a projectos de pequena dimensão, mais territorializados”. Também a revisão da Lei do Cinema e do Audiovisual e a definição do Estatuto do Trabalhador Artístico, constituem preocupações da ministra, a concretizar a breve prazo.

Um homem com múltiplos interesses

Matos Barbosa, amigo de longa data do homenageado, teceu elogios a António Gaio e lembrou os tempos de juventude, do cineclubismo e das longas conversas sobre filmes, banda desenhada ou literatura. “O António”, afirmou, é o “homem das contas, com grande segurança no trabalho que faz, e um homem de espírito aberto.”

A comprovar esse “espírito aberto”, estão os 80 anos de vida de António Gaio, que se foi revelando um verdadeiro “homem dos sete ofícios”: foi bancário de profissão, mas o seu interesse pela cultura e outras actividades recreativas ter-se-á manifestado desde muito cedo.

No desporto, foi dirigente do Sporting Clube de Espinho e da Associação Académica de Espinho durante 28 anos e foi fundador da secção de Ginástica Desportiva da Académica de Espinho, em 1945. Além disso, integrou a comissão para a construção do Pavilhão Arquitecto Jerónimo Reis, no concelho de Espinho.

Teve ainda tempo para passar pelo jornalismo: ocupou cargos redactoriais, na administração ou direcção da imprensa local, em jornais como o “Defesa de Espinho” ou o “Maré Viva”, do qual foi fundador.

Assumiu a direcção do Cinanima em 1981. Na qualidade de director do Festival, integrou por duas vezes o júri dos concursos do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia. Em 1997, recebeu a Comenda de Mérito Cultural, atribuída pelo Presidente da República. Em 2000, publicou um livro pioneiro: “História do Cinema Português de Animação – contributos”.

Texto e fotos: Anabela Couto