Um dos mais espaços mais emblemáticos do Porto foi hoje, terça-feira, palco de acções de candidatos à autarquia mais cedo do que é habitual. A ordem de evacuação dos comerciantes da ala sul por risco de ruína, aconselhada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), levou os candidatos socialista e comunista ao mercado do Bolhão.

Francisco Assis e Rui Sá só conheciam o que veio veiculado hoje na comunicação social e lamentam o facto do relatório não ter sido tratado ao nível do Executivo camarário. Rui Sá, que frisou que vinha ao Bolhão como deputado municipal e vereador, prometeu discutir o assunto na reunião camarária de amanhã.

O candidato socialista afirmou aos jornalistas estar “muito preocupado com esta situação porque tem a ver com a vida de muitas pessoas”. “Alguém é responsável”, declarou Assis, sem citar nomes, considerando que existe “incúria e evidente incompetência” num processo que se arrasta há vários anos.

Para Assis, Rui Rio, quando tomou posse como presidente da câmara, não considerou a deterioração do mercado como uma prioridade, deixando na gaveta o projecto de Joaquim Massena que ascendia aos 15 milhões de euros.

Defendo uma intervenção faseada, Assis pensa que a solução deve ser pensada “ouvindo os comerciantes” e exige que Rui Rio diga quando é que vão começar as obras. “As pessoas precisam de uma perspectiva clara”, defendeu.

Já Rui Sá não rejeita o plano de Rui Rio para reabilitar o Bolhão, que defende a coexistência do Bolhão tradicional com outros negócios, desde que isso não signifique a saída forçada de nenhum lojista. “Se saírem daqui é a morte [do Bolhão]”, declarou o vereador comunista aos comerciantes que se aglomeraram à sua volta.

O comunista defende a possibilidade da Câmara se endividar para a reabilitação do mercado e da eventual responsabilidade da Metro do Porto na degradação da ala sul. A confirmar-se essa responsabilidade, deviam ser exigidas indemnizações que seriam aplicadas nas obras, defendeu Sá.

Comerciantes revoltados

Os comerciantes afectados pela evacuação da ala sul não se conformam com a decisão da Câmara do Porto. Helder Fonseca, 34 anos, peixeiro, questiona como é, que sendo o mesmo edifício, apenas os lojistas da parte interior tenham sido obrigados a sair. “Há grandes interesses aqui dentro”, acusou. “Obras sim, mas falam as obras com os comerciantes cá dentro”, defende o lojista há 12 anos no Bolhão.

Arminda Barbosa, 55 anos, merceeira, é da mesma opinião. “Cheira-me a interesses imobiliários”, afirmou ao JPN. Para a merceeira, a razão da evacuação ser só para os comerciantes da parte interior deve-se ao facto de estes pagarem apenas uma taxa de ocupação e o despejo dos da parte exterior exigir o pagamento de indemnizações.

Texto e fotos: Pedro Rios