Quase vinte anos depois da primeira candidatura, Mário Soares volta a correr pelo cargo de Presidente da República. A notícia foi adiantada hoje, segunda-feira, pelos jornais Público e Diário de Notícias (DN), que referem que a candidatura deverá ser anunciada em Setembro, estando já a ser preparada há um mês, com a intermediação de José Sócrates e Jorge Coelho. De resto, o DN afirma que os presidentes das “distritais” do PS já foram informados do avanço de Soares, por forma a garantir-lhe um apoio concertado.

Ontem, domingo, José Sócrates declarou ao Jornal de Notícias que o ex-líder do PS seria, “obviamente, um bom candidato e um bom Presidente da República”. Sócrates garantiu que Soares terá, em caso de disponibilidade, “um grande apoio no PS e no país”. Em resposta, num comunicado enviado às redacções dos jornais, Soares escreve que a declaração do primeiro-ministro “muda as circunstâncias e tem um peso inegável” na sua reflexão, condicionando uma decisão final a uma consulta a “sectores muito alargados da sociedade portuguesa” e ao “sentimento” e “pensar profundo dos portugueses”.

O texto enviado às redacções denuncia, porém, um esboço programático para as eleições presidenciais de Janeiro: Mário Soares fala de uma “perspectiva nacional, destinada a unir os portugueses e a contribuir para lhes dar estabilidade, segurança e uma nova esperança quanto ao futuro”.

Anúncio de Soares clarifica situação à esquerda

O PS parece ter encontrado finalmente o seu candidato, depois das hipóteses António Guterres, Manuel Alegre e Freitas do Amaral. O ex-primeiro-ministro desviou-se da corrida depois de ter sido nomeado Alto Comissário da ONU para os Refugiados. Alegre ainda se mostra disponível para concorrer às presidenciais, mas com a entrada de Soares mais não lhe restará do que a saída de cena, o mesmo acontecendo com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros. De resto, o anúncio da disponibilidade de Freitas do Amaral terá feito apressar a “pré-candidatura” de Soares.

Uma sondagem do jornal Expresso, publicada no sábado, dava Cavaco Silva como virtual vencedor das eleições presidenciais (com 56 a 59 por cento das intenções de voto), contra qualquer um dos possíveis candidatos apoiados pelo PS. Mário Soares é ainda assim o opositor mais bem colocado, com um resultado de 44 por cento.

João Pedro Barros
Foto: IPS-Inter Press Service